O ator e pesquisador Ney Piacentini perguntou a atrizes e atores das mais variadas tendências se existe uma forma de atuação genuinamente brasileira e as reações à sua questão estão no vídeo A IDENTIDADE DA ATUAÇÃO BRASILEIRA que faz parte de seu doutorado na UNESP de 2021. O vídeo está disponível no canal do YouTube de Ney e vale a pena ser assistido por todos aqueles que apreciam e, e principalmente, por aqueles que fazem teatro
Nossos índios deviam ter uma forma muito original e tipicamente nativa
de realizar seus rituais, mas a partir do momento que foram interpretar os
autos de José de Anchieta, o padre deve ter imposto a eles, o estilo português
de representação. E a partir daí houve muita mistura de portugueses, espanhóis,
franceses, italianos, japoneses que aqui chegaram e ajudaram a construir a
identidade brasileira. O homem brasileiro é fruto disso tudo, assim como sua
forma de interpretar um texto teatral.
Muitos dão como a origem da brasilidade na interpretação a Praça Tiradentes do Rio de Janeiro e o seu teatro de revista citando nomes dos gloriosos Grande Otelo e Dercy Gonçalves, mas esses espetáculos têm toda a influência das revistas francesas e portuguesas. Outros citam os circo-teatros, mas estes têm muito a ver com a commedia dell’arte.
É difícil generalizar, mas como diz Julio Adrião em seu depoimento, o
brasileiro tem um “senso de humor próprio e um jeito de fazer dar certo,
apesar de...” e isso talvez seja a maior característica da interpretação
brasileira, apesar de todas influências recebidas de companhias e teóricos
estrangeiros como Stanislavski, Brecht, Artaud, Grotowski, Tadeusz Kantor e
tantos outros.
João Caetano tem livro de lições dramáticas, Eugênio Kusnet desenvolveu
seu método brasileiro a partir de Stanislavski e vamos por aí a fora, mas Dercy
Gonçalves, Grande Otelo, Marília Pêra e todos aqueles que sabem incorporar o
humor e até certo deboche em seus trabalhos são a meu ver os verdadeiros
intérpretes brasileiros.
E tudo também depende daquilo que vai ser interpretado. Mais uma vez citando Marília Pêra, como não diferenciar o jeito brasileiro em trabalhos como Apareceu a Margarida e A Vida Escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato das interpretações quase clássicas de Master Class e Mademoiselle Chanel? Eu acredito que algo que caracteriza a interpretação de boa parte dos artistas brasileiros é a versatilidade de transitar muito à vontade entre e o drama e a comédia.
Este é apenas um breve parecer meu, que não sou
ator, mas fiquei tentado a discorrer sobre o tema. Acredito que o parecer esteja
sujeito a erros, mas dou a mão à palmatória.
Deixemos os pareceres mais consistentes e
abalizados para os especialistas: Denise Weinberg, Ricardo Kosovski, Guida Vianna,
Magali Biff,
Cacá Carvalho,
Matteo Bonfitto, Walderez de Barros, Eduardo Moreira, Nanego Lira,
Danilo Cavalcante, Matheus Nachtergaele, Lígia Cortez,
Lima Duarte, Renato Borghi, Laura Cardoso, Marcelo Olinto,
Tânia Farias,
Ademir de Almeida, Helena Albergaria, Giovana Soar,
Rodrigo Bolzan,
Gilberto Gawronski e Júlio Adrião.
As opiniões são bastante divergentes e pode-se concordar ou discordar das mesmas. O importante é que se veja e analise todas e se possível se chegue a uma conclusão, o que me parece quase impossível.
Endereço: YouTube de Ney Piacentini.
O vídeo inicia com uma introdução de Ney e Denise Weinberg, seguido dos depoimentos. Tempo total: 1h21min
NÃO DEIXE DE VER!
20/01/2022
(
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