- Arnolfo, Arnolfo ... Cadê o Arnolfo?
Descobertas suas falcatruas o
personagem Arnolfo literalmente sai de cena, sendo um dos poucos momentos em
que seu intérprete Brian Penido Ross está fora do palco nesta deliciosa
montagem da comédia de Molière dirigida por Clara Carvalho.
De O Tempo e os Conways (1986)
a De Todas as Maneiras Que Há de Amar acompanho a carreira de
Clara Carvalho como atriz por meio das 46 peças onde pude comprovar seu grande
talento.
Na direção Clara vem se exercitando
desde 2009 quando realizou Valsa Nº 6 com Marina Ballarin e atingiu
nível de excelência nessa função com as montagens de alguns textos de Matéi
Visniec.
Pessoalmente uma pessoa bonita, doce,
simpática, elegante, coerente e muito inteligente, Clara agora dirige Escola
de Mulheres de Molière, importante peça do dramaturgo francês há muitos
anos ausente de nossos palcos.
E o resultado é bonito, elegante, coerente
e muito inteligente como sua diretora.
O teatro de Molière é anti-machista
como provam alguns de seus personagens masculinos ridicularizados pelas
artimanhas e espertezas das mulheres. Os melhores exemplos são o Senhor
Jourdain de O Burguês Fidalgo e Arnolfo de Escola de Mulheres.
A diretora enfatiza essa característica na sua montagem, colocando o homem - e
suas tentativas de oprimir a mulher – em seu devido lugar.
Não há como negar no trabalho da
diretora a influência dos anos que passou no Grupo TAPA com seu diretor Eduardo
Tolentino de Araújo, mas Clara tem vida própria, incorporando ao seu trabalho
tratamento estético precioso (haja vista os belíssimos telões de Chris Aizner
ilustrando o tempo da ação) e uma movimentação cênica do elenco que se
assemelha a um balé, sendo o melhor exemplo as cenas de Arnolfo com seus criados
Alain e Georgette, neste caso em muito deve ter contribuído a direção de
movimento assinada por Guilherme Sant’Anna. Nesse sentido é esteticamente bela
a decisão da diretora de introduzir a figura do Cupido (Felipe Souza),
inexistente no original de Molière.
A caprichada produção do espetáculo
incorpora, além da já citada cenografia de Chris Aizner, os belos figurinos de
Marichilene Artisevskis, o desenho de luz de Wagner Pinto e um sugestivo
complemento musical composto por Gustavo Kurlat.
Talento e harmonia talvez sejam as
principais qualidades do elenco da peça sendo que alguns personagens oferecem
mais oportunidades para este ou aquele intérprete e não há como não destacar as
gostosas intervenções dos criados Alain (Rogério Pércore) e Georgette (Vera Espuny),
a presença de Fulvio Filho como Crisaldo e a graça do par amoroso Inês
(Gabriela Westphal) e Horácio (Ariel Cannal).
E Arnolfo??? Mais uma demonstração do
talento de Brian Penido Ross, que assim como Clara, faz parte da minha vida de
espectador desde 1986, quando o TAPA chegou em São Paulo e, para nossa sorte,
nunca mais saiu.
Brian é daqueles atores que transitam
muito bem entre o drama e a comédia e no papel de Arnolfo ele pode demonstrar
todo o potencial cômico.
Escola de Mulheres diverte e chama a atenção para os
perigos do machismo e do falso moralismo.
Mais um grande momento desta temporada
teatral que está começando e prometendo muito, desde que a pandemia e esse
governo insano e imoral não atrapalhem.
PARABÉNS CLARA CARVALHO!
P.S. São tantas as qualidades da encenação de Clara Carvalho, que algumas acabam nos escapando. Uma delas é a versão do texto realizada por Clara com deliciosas rimas e explicadas em certos momentos no melhor estilo brechtiano, como é o caso do uso dos palavrões e do comentário de que Horácio estava tão nervoso em certo momento que até deixou de falar com rimas. Precioso!
16/01/2022
É SEMPRE BOM LEMBRAR:
“Há exatos trinta anos (1987) fui ao
Teatro Aliança Francesa junto com alguém (que não lembro quem!) para assistir à
nova montagem do Grupo Tapa, Uma Peça Por Outra. O grupo começava a se fixar em
São Paulo e sempre sob a direção de Eduardo Tolentino já havia apresentado por
aqui duas muito bem sucedidas montagens (O Tempo e os Conways e Viúva, Porém
Honesta). Meus ingressos davam direito às poltronas D1 e D3.
30 de março de 2017. Novamente me dirigi ao Teatro Aliança Francesa para assistir à nova encenação da peça de Jean Tardieu desta vez produzida pelo Grupo das Dores e dirigida por Brian Penido Ross e Guilherme Sant’Anna (que fizeram parte da primeira montagem). Ao pegar meus convites com a sempre gentil Lívia Carmona, a surpresa: poltronas D1 e D3, ou seja, trinta anos depois assisti à mesma peça, no mesmo teatro e, pasmem, na mesma poltrona!! Outra manobra de Dionísio na mesma semana. O fato virou assunto no coquetel após o espetáculo e até rendeu uma bela foto com a querida Clara Carvalho que também está presente na atual montagem.”
15/01/2022. Recebo em casa por e-mail
os ingressos para assistir a Escola de Mulheres: Poltronas D2 e D4,
vizinhas das minhas D1 e D3. A parte central da fileira D do Teatro Aliança
Francesa me persegue, quando vou assistir a algum espetáculo de Clara Carvalho.
Manobras de Dionísio.
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