Foi em 1963 que vi
pela primeira vez Renato Borghi atuando no palco do Teatro Oficina. A
peça era Quatro Num Quarto, uma comédia leve russa dirigida por Maurice
Vaneau que fez muito sucesso na época.
No ano seguinte foi a vez de assistir a Pequenos Burgueses,
espetáculo antológico do Oficina dirigido por Zé Celso Martinez Corrêa
onde Renato tinha uma brilhante interpretação como o jovem Piotr.
Em 1966 quando o
teatro da Rua Jaceguai sofreu um incêndio, o grupo fez uma retrospectiva de
seus espetáculos no Teatro Cacilda Becker na Avenida Brigadeiro
Luiz Antonio onde tive a oportunidade de assistir a mais dois excelentes
trabalhos de Borghi em A Vida Impressa Em Dólar e em Andorra
onde ele interpretava o jovem Andri ao lado de Miriam Mehler como Barblin.
A partir daí foram
inúmeros excelentes desempenhos no Oficina: O Rei da Vela em
1967, Galileu Galilei em 1968 até As Três Irmãs em 1972, peça na
qual ele se desligou do grupo.
Nos cinquenta anos
seguintes assisti a outros trabalhos notáveis de Borghi incluindo O Que
Mantém Um Homem Vivo? em 1973, em 1982 e em 2019.
Eis que em 2022 o grande ator retoma a obra de Bertolt Brecht estendendo a pergunta diretamente a todos nós e denunciando os estragos promovidos pelo insano presidente atual que felizmente deve sair de cena em 01 de janeiro de 2023. Para tanto adaptou junto com seus colaboradores o poema Cruzada das Crianças que abre o espetáculo, trecho de Galileu Galilei com o diálogo de Galileu com o pequeno monge, uma síntese de Santa Joana dos Matadouros que permite uma interpretação memorável de Débora Duboc e um mix bastante interessante de A Resistível Ascenção de Arturo Ui com O Rei da Vela, que dá margem a uma brilhante intervenção de Elcio Nogueira Sanches.
Renato Borghi mostra
muita energia em cena apesar da fragilidade física em função da idade e das
cirurgias recentes. De Galileu ele passa para a senhora que vem procurar o
marido na porta do matadouro em Santa Joana até chegar ao Abelardo de O
Rei da Vela. A seu lado brilham Débora, Elcio , os músicos/atores
Cristiano Meirelles e Nath Calan e o encenador Rogério Tarifa que participa ativamente
de todas as cenas corais do espetáculo.
Rogério Tarifa
imprime sua inconfundível marca pessoal à encenação com a colaboração de
Andreas Guimarães e Luiz André Cherubini na cenografia, de Marisa Bentivegna na
criativa iluminação e de Juliana Bertolini nos figurinos. As canções que
ilustram a cena são de autoria de Jonathan Silva, com exceção daquela que fecha
o primeiro ato que é de autoria de Kurt Weill e Brecht. A direção musical é de
William Guedes. Cabe destacar também a excelente movimentação do elenco em cena
criada por Marilda Alface. Participação especialíssima dos pequenos bonecos
também de autoria de Cherubini do Grupo Sobrevento.
Com essa equipe de ouro a encenação só poderia resultar bela e potente, respondendo em alto e bom som que o que nos mantém vivos é a liberdade, a cultura e a barriga cheia.
O QUE NOS MANTÉM VIVOS? está em cartaz no Teatro Anchieta até 17/12 com sessões às sextas e aos sábados às 20h e aos domingos às 18h. O espetáculo dura três horas com um intervalo de 15 minutos.
OBS: Infelizmente o programa da peça é acessível apenas por QR code e não se permite o down load e a impressão do mesmo. LAMENTÁVEL!!!
14/11/2022
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