A PALMASOLA QUE EU NÂO VI
ou
A VOLTA DE QUEM NÃO
FOI
ou
A CORAJOSA FUGA DE PALMASOLA
Palmasola, situada em
Santa Cruz de la Sierra, é a maior prisão da Bolívia e é para lá que é levado
um jovem que é flagrado pela polícia com cápsulas de cocaína no estômago, ingeridas
para posterior transporte para a Europa.
A vida dos
presidiários nessa prisão é o mote desse espetáculo do grupo suíço KLARA.
Para dar maior
realismo à apresentação na bela Casa da Frontaria Azulejada de Santos, ela foi
tornada mais feia com boa parte das paredes cobertas com folhas de zinco e com
iluminação beirando a penumbra.
Faz parte da
convenção da peça que o público seja tratado como presidiário, caminhando por
todo o espaço sem se sentar durante a hora e meia de duração da peça.
Com minha mobilidade
reduzida e caminhando com alguma dificuldade com auxílio de uma bengala pensei
em desistir antes de adentrar o espaço cênico, mas incentivado por alguns
amigos resolvi tentar.
O pessoal do SESC
disse que me daria todo apoio que fosse necessário.
Um guarda truculento
(personagem) organizou a fila aos berros e após carimbar uma identificação no
braço de cada um, fez o público entrar se confinando em uma pequena sala; ali
fiquei sabendo que uma senhora do SESC me acompanharia durante todo o trajeto.
Nas cenas paradas eu ficaria sentado numa cadeira e no percurso itinerante ela
zelaria por mim e carregaria a cadeira até a próxima parada. Nesse salão acontece
a cena em que o homem/mula conta como foi parar em Palmasola.
Uma enorme porta de
zinco é aberta a seguir e nós, os presidiários, somos conduzidos para um ambiente
mais escuro e nesse pequeno trajeto já tropecei. Conclui, talvez tardiamente,
que ali não era lugar pra mim. Precisava fugir daquela cadeia, mas como fazê-lo
já que eu era um detento sob o olhar dos vigilantes?
A minha acompanhante/carcereira insistia para que eu ficasse, mas achei um jeito de fugir. Uma vez na rua, respirei a minha liberdade e com o suporte da minha bengala caminhei até os Arcos do Valongo onde uma van do SESC me trouxe de volta a segurança (quase) perdida em Palmasola.
Quero deixar claro
que não reprovo a maneira da condução do espetáculo; já assisti a muitos
espetáculos itinerantes/interativos com ótimos resultados e tudo indica que
esse também é o caso deste Palmasola. Sai nos primeiros momentos por duas
razões: o medo de cair e para não atrapalhar o clima da peça com uma cadeira
circulando no meio das cenas.
Agradeço a atenção do pessoal do SESC procurando ao máximo me apoiar e dar proteção, mas esse espetáculo não é indicado para um octogenário com mobilidade reduzida no momento. Estava no lugar errado.
13/09/2024
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