sexta-feira, 13 de setembro de 2024

PALMASOLA

 


A PALMASOLA QUE EU NÂO VI

ou

A VOLTA DE QUEM NÃO FOI

ou

A CORAJOSA FUGA DE PALMASOLA

Palmasola, situada em Santa Cruz de la Sierra, é a maior prisão da Bolívia e é para lá que é levado um jovem que é flagrado pela polícia com cápsulas de cocaína no estômago, ingeridas para posterior transporte para a Europa.

A vida dos presidiários nessa prisão é o mote desse espetáculo do grupo suíço KLARA.

Para dar maior realismo à apresentação na bela Casa da Frontaria Azulejada de Santos, ela foi tornada mais feia com boa parte das paredes cobertas com folhas de zinco e com iluminação beirando a penumbra.

Faz parte da convenção da peça que o público seja tratado como presidiário, caminhando por todo o espaço sem se sentar durante a hora e meia de duração da peça.

Com minha mobilidade reduzida e caminhando com alguma dificuldade com auxílio de uma bengala pensei em desistir antes de adentrar o espaço cênico, mas incentivado por alguns amigos resolvi tentar.

O pessoal do SESC disse que me daria todo apoio que fosse necessário.

Um guarda truculento (personagem) organizou a fila aos berros e após carimbar uma identificação no braço de cada um, fez o público entrar se confinando em uma pequena sala; ali fiquei sabendo que uma senhora do SESC me acompanharia durante todo o trajeto. Nas cenas paradas eu ficaria sentado numa cadeira e no percurso itinerante ela zelaria por mim e carregaria a cadeira até a próxima parada. Nesse salão acontece a cena em que o homem/mula conta como foi parar em Palmasola.

Uma enorme porta de zinco é aberta a seguir e nós, os presidiários, somos conduzidos para um ambiente mais escuro e nesse pequeno trajeto já tropecei. Conclui, talvez tardiamente, que ali não era lugar pra mim. Precisava fugir daquela cadeia, mas como fazê-lo já que eu era um detento sob o olhar dos vigilantes?

A minha acompanhante/carcereira insistia para que eu ficasse, mas achei um jeito de fugir. Uma vez na rua, respirei a minha liberdade e com o suporte da minha bengala caminhei até os Arcos do Valongo onde uma van do SESC me trouxe de volta a segurança (quase) perdida em Palmasola.

Quero deixar claro que não reprovo a maneira da condução do espetáculo; já assisti a muitos espetáculos itinerantes/interativos com ótimos resultados e tudo indica que esse também é o caso deste Palmasola. Sai nos primeiros momentos por duas razões: o medo de cair e para não atrapalhar o clima da peça com uma cadeira circulando no meio das cenas.

Agradeço a atenção do pessoal do SESC procurando ao máximo me apoiar e dar proteção, mas esse espetáculo não é indicado para um octogenário com mobilidade reduzida no momento.  Estava no lugar errado. 

13/09/2024

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