Farpas versus farpas. Uma batalha de palavras agressivas entre um casal em crise no relacionamento. Esse parece ser um assunto caro para o dramaturgo francês Pascal Rambert (1962-) do qual já vimos “Término do Amor” em 2016 com Carol Fabri e Gabriel Miziara, dirigidos por Janaína Suaudeau, que era formada por dois longos monólogos onde as personagens não se relacionavam em cena.
De maneira menos radical, Rambert repete em “Finlândia” a estrutura da peça anterior dando a cada personagem longas falas enquanto a outra só escuta, reagindo com expressões faciais, técnica caríssima, diga-se de passagem, a Ariane Mnouchkine. Os diálogos em cena são raros.
Uma peça com essa estrutura necessita de profissionais qualificados ao traduzi-la cenicamente. Pedro Granato, com a ajuda da cenografia de Marisa Bentivegna cria um ambiente claustrofóbico, confinando o casal em um quarto de hotel na Finlândia, onde o frio lá fora, não combina com o calor da briga de dentro. De resto, Granato foca toda a sua atenção nos intérpretes.
Jiddu Pinheiro revela maturidade ao interpretar o homem da relação. Um ser machista que procura mostrar domínio da situação, mas que revela toda sua fragilidade ao longo da ação.
O personagem de Paula Cohen atende por Paula e proporciona a essa atriz uma interpretação exuberante e arrebatadora. As reações mudas de Paula às investidas de Jiddu, são o que a encenação tem de melhor, haja vista a primeira cena da peça onde ela, na cama, reage silenciosamente ao longo solo acusatório do homem, remexendo travesseiros e edredons. Uma interpretação poderosa que já pode ser incluída entre as melhores de um ano que está só começando.
“Finlândia” é um espetáculo tenso onde uma ou várias das causas do conflito do casal podem se identificar com aquelas que espectador tem ou já teve em seus relacionamentos. Ninguém sai indiferente do teatro.
Há uma terceira personagem que aparece ao final da peça que é a filha do casal. Interpretada com sensibilidade pela jovem Turi, a menina colabora para o desfecho da ação.
Não precisa ser a Finlândia; qualquer geografia do nosso planeta abriga relacionamentos cuja toxicidade só depende dos maus instintos do ser humano que está cada vez mais difícil de se relacionar com o outro, por isso “Finlândia” é uma obra importantíssima para que se reflexione sobre aquilo que ela apresenta.
NÂO DEIXE DE VER!
FINLÂNDIA está em cartaz no Teatro Vivo apenas às quartas e quintas às 20h.
24/01/2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário