Assisti a “Um Grito Parado no Ar” em 1973 no Aliança Francesa, dirigido pelo Fernando Peixoto. Othon Bastos dava um show como o ator Augusto, o saudoso Ênio Carvalho era o diretor Fernando, Oswaldo Campozano fazia Euzébio e o elenco feminino era formado por Martha Overbeck (Amanda), Liana Duval (Flora) e Sonia Loureiro (Nara). O grupo Arena já não existia há alguns anos, mas a chama desse grupo ainda estava presente no autor Gianfrancesco Guarnieri e as farpas contra a ditadura militar, tão presente naqueles anos sombrios, eram ainda bem afiadas.
51 anos se passaram e muita água passou debaixo da ponte que sustenta o Brasil e muito consciente dos problemas atuais, Rogério Tarifa revisita esta obra de Guarnieri fazendo um exercício de meta teatro muito interessante no prólogo onde ele se coloca na pele de Guarnieri recebendo as figuras do Teatro Arena e entre elas o elenco da peça que vai ser apresentada, são pessoas do presente interpretando Othon/Augusto (Guilherme Carrasco), Ênio/Fernando (Rubens Consolini), Campozano/Euzébio (Oswaldo Ribeiro Acalêo, bem-vinda presença egressa do TUOV), Martha/Amanda (Isadora Titto, forte presença cênica), Sonia/Nara (Maria Loverra) e destaque para a presença luminosa de Dulce Muniz como Liana/Flora, que também presta uma homenagem a Heleny Guariba, diretora teatral e militante, desaparecida nas masmorras da ditadura.
A seguir é apresentada a peça permeada por depoimentos de integrantes de um coro formado por intérpretes não profissionais de teatro. A escolha feita por Tarifa de cada um desses integrantes poderia compor uma aula de sociologia e seus depoimentos versam sobre preconceito de gênero, prostituição, educação, movimentos estudantis, situação do operariado, entre outros. Desta maneira a peça de Guarnieri se abre sobre um leque de problemas sócio-políticos que insistem em ainda fazer parte da nossa realidade.
Destaque também para as canções originais de Jonathan Silva com direção musical de William Guedes.
Iluminação primorosa de Marisa Bentivegna.
A peça acontece tendo como pano de fundo um telão onde aparecem cenas da montagem de 1973 e termina com uma emocionante homenagem a Guarnieri e ao teatro brasileiro.
Fui agraciado publicamente por Rogerio Tarifa com um poster da peça com imagem feita pelo saudoso Elifas Andreato.
HAJA CORAÇÃO PARA TANTA EMOÇÃO!
UM GRITO PARADO NO AR está em cartaz no SESC Bom Retiro até 16/02, sextas e sábados às 19h30, domingos e feriados às 18h.
Quem ama e/ou faz teatro não pode perder.
18/01/2025
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