A COMPANHIA DA MEMÒRIA REVISITA TCHEKHOV
Muitas Liubas já passaram pelos olhos deste espectador apaixonado, todas interpretadas por grandes atrizes: Cleyde Yáconis (1982), Nathália Timberg (1990), Carolina Fabri (2014) e Clara Carvalho (2019). Agora chegou a vez de Sandra Corveloni vestir o lindo figurino de Fabio Namatame para interpretar a icônica personagem de Anton Tchekhov sob a direção inspirada de Ruy Cortez.
A peça está em cartaz no mesmo palco onde foi encenada em 1982 sob a direção de Jorge Takla.
Em um cenário audacioso assinado por André Cortez ergue-se uma passarela que rasga a plateia do Anchieta até metade da mesma. Cerejeiras são representadas por balões de ar que cobrem todo o espaço. É uma pena que ao final esses balões/cerejeiras não possam vir abaixo. Se fosse uma produção da Ruth Escobar, ela iria dar um jeito de realizar a derrubada.
A peça se passa na residência de Liuba e o espaço cênico é formado por um tablado e a passarela que dá acesso ao jardim das cerejeiras. Na concepção dos dois Cortez (Ruy e André) parte do público se acomoda no palco ladeando o tablado.
Representada na íntegra assim como Tchekhov a concebeu é uma rara oportunidade de ver toda a beleza dessa última obra do dramaturgo russo, uma vez que na maioria das vezes é representado o texto da versão reduzida encenada por Stanislavski.
Há uma perfeita comunhão entre as cores dos magníficos figurinos assinados por Fabio Namatame e a iluminação de Wagner Antônio provocando um grande prazer estético no espectador.
O elenco completa a excelência dessa encenação: João Vasco que já foi notado em “A Semente da Romã” faz o estudante Pétia com muita segurança; Walter Breda encarrega-se de Píschik provocando saudáveis momentos de humor no público; Mario Borges empresta sua categoria e seu porte para Gáiev, irmão de Liuba; há um Firs, lacaio ancião (José Rubens Siqueira) e uma criativa (por parte do diretor) réplica sua (Luiz Amorim); Daniel Warren (Epikhódov) brilha todas as vezes que entra em cena; Lopakhine é interpretado com certo exagero por Caio Juliano e como não vibrar com a entrada exuberante de Clodd Dias como a chefa da estação? Beatriz Napoleão e Gabrielle Loes interpretam Ania e Vária as filhas de Liuba e Ana Hartmann é Duniacha. Conrado Costa e Felipe Samorano completam o elenco.
A entrada triunfal de Liuba no início da peça já revela que irá se presenciar mais uma marcante interpretação de Sandra Corveloni. A atriz dosa de maneira brilhante as alegrias e as tristezas dessa grande personagem do teatro ocidental.
Charlotta é uma personagem por vezes negligenciada e até abolida de muitas encenações, Ruy Cortez, ao contrário, coloca holofotes na figura, propiciando uma atuação memorável a Ondina Clais que chega a fazer surpreendentes truques de mágica em cena.
O Jardim de Cerejeiras é uma grande produção com elenco de quinze intérpretes e cenário e figurinos majestosos. Nada disso valeria se não contivesse uma grande mensagem de humanidade.
O JARDIM DAS CEREJEIRAS está em cartaz no Teatro Anchieta até 02/03 com sessões às sextas e sábados às 20h e aos domingos e feriados às 18h
Sessões extras: Quintas: 06 e 13/02 às 15h e 27/02 às 20h
ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!
19/01/2025
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