domingo, 26 de janeiro de 2025

FURACÃO


Southern trees bear strange fruit

Blood on the leaves and blood at the root

Black bodies swinging in the southern breeze

Strangefruit hanging from the poplar trees

[Strange S Fruits por Abel Meeropol (Lewis Allan)]

     Ana Teixeira e Stephane Brodt não vêm muito a São Paulo com o seu grupo AMOK TEATRO. Neste século compareceram apenas quatro vezes com os memoráveis “O Carrasco” (2002), “Savina” (2007), “Salina- A Última Vértebra” (2016) e “Os Cadernos de Kindzu” 2018). Espetáculos de caráter épico/étnico/político com grande elenco que deslumbraram os espectadores que tiveram a oportunidade de assisti-los.

     Desta vez estão de volta com FURACÂO, texto potente em sua denúncia do preconceito racial, do mesmo autor (Laurent Gaudé) de “Salina” que tratava do universo cigano; desta vez Gaudé voltou-se para o sul dos Estados Unidos durante a passagem do furacão Katrina que devastou muitas cidades do sul do país em 2005.

     Uma senhora centenária de nome Josephine Link Steelson denuncia todo o horror da perseguição aos negros enquanto orienta e acolhe seus parentes indefesos durante a passagem do furacão.

     Trata-se de um espetáculo pequeno (só no tamanho!) em relação às outras montagens de Teixeira e Brodt, mas grandioso em sua denúncia e na intepretação impressionante de Sirlea Aleixo que desfila o texto durante pouco mais de uma hora mantendo uma postura corporal admirável, ela só é interrompida pela cuidadosa trilha sonora que comenta a ação e é interpretada por sua filha, Taty Aleixo (voz belíssima), acompanhada por Rudá Brauns e Anderson Ribeiro.

     As crescentes comoção e indignação que o espetáculo provoca atingem seu auge quando ao final Taty interpreta a icônica canção “Strange Fruits”, talvez o mais contundente libelo contra os horrores sofridos pelos negros no sul dos Estados Unidos: as estranhas frutas são os corpos dos negros pendurados nas árvores após terem sido espancados e mortos. A canção é dos anos de 1930, mas o preconceito racial ainda é uma realidade a ser combatida. Quem não conhece a canção procure ouvi-la na interpretação comovente de Billie Holiday.

Aqui está a fruta para os corvos arrancarem

Para a chuva recolher, para o vento sugar 

Para o sol apodrecer, para as árvores derrubarem

Aqui está a estranha e amarga colheita 


     FURACÃO está em cartaz no SESC Santana até 16/02 de quinta

 a sábado às 20h e aos domingos às 18h.

IMPERDÍVEL

26/01/2025




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