terça-feira, 25 de novembro de 2025

LOKONA



1.   INTRODUÇÃO

A loucura já rendeu muitas obras de arte.

Na música, como não lembrar da “Balada do Louco” (1972) de Arnaldo Baptista e Rita Lee e da inimitável “Balada Para Un Loco” (1969), poema do argentino Horacio Ferrer eternizado pela música de Astor Piazzolla?

No teatro, basta citar “Marat Sade” de Peter Weiss e no cinema o memorável e poético “Esse Mundo É dos Loucos” (Le Roi de Coeur) de Philipe de Broca.

Sem esquecer de toda a obra de Nise da Siveira.

De alguma maneira todas essas obras têm em sua origem o livro “O Elogio da Loucura” escrito em 1508 pelo holandês Erasmo de Rotterdam onde a deusa Loucura chega a exclamar: “Quanto mais contrária ao bom senso é uma coisa, tanto maior é o número dos seus admiradores, e constantemente se vê que tudo o que mais se opõe à razão é justamente o que se adota com maior avidez. Perguntar-me-eis por que? Pois já não vos disse mil vezes? É porque quase todos os homens são malucos.”[9]

Encerro esta introdução citando uma frase de Samuel Beckett contida no insuperável “Esperando Godot”:

Todo mundo nasce louco, só que alguns permanecem”

 

2.   LOKONA

Todas essas referências me vieram à mente ao assistir a irreverente encenação de Dino Bernardi inspirada na obra de Rotterdam brilhantemente adaptada para o teatro por ele e por Eduardo Akiyama.

Dino optou por uma versão tropicalista (carnavalizada, segundo suas próprias palavras) colocando a loucura que tem o nome de LouLou Divine em um programa televisivo apresentado por um mestre de cerimônias tão louco quanto ela!

Após uma breve introdução do apresentador, LouLou entra em cena com uma roupa amarela extravagante, envolta em um enorme boneco inflável declamando “Quando Ismália Enlouqueceu”, o poema de Alphonsus de Guimaraens.

O clima do espetáculo, impregnado de um delicioso deboche, está criado e o público já se envolveu; a partir daí é só acompanhar as peripécias de Lou Lou acompanhada por um, às vezes incrédulo, apresentador. Tudo isso acompanhado pelas músicas, também irreverentes, tocadas ao vivo por Fábio Evangelista. Sucedem-se cenas hilárias como aquela das perguntas ping pong e aquela do caleidoscópio. Ao final fica a pergunta: Quem são os loucos nesta modernidade ensandecida?

A extravagância da encenação só podia contar com interpretações também extravagantes e Karina Giannecchini e Fernando Aveiro o fazem de maneira brilhante. A garra e a energia de Karina são de tirar o fôlego.

Rir sempre nos faz pensar em quanto estamos rindo de nossa própria desgraça.

Felizmente somos desgraçadamente loucos.

Não se assuste com o título da peça, ele tem tudo a ver com aquilo que se vê no palco.

Divirta-se e pense a respeito.

 

LOKONA está em cartaz no aconchegante Teatro Manás Laboratório de segunda a quarta às 21h até 17 de dezembro.

 

25/11/2025

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