1. INTRODUÇÃO
A loucura já rendeu muitas obras de
arte.
Na música, como não lembrar da “Balada
do Louco” (1972) de Arnaldo Baptista e Rita Lee e da inimitável “Balada Para Un
Loco” (1969), poema do argentino Horacio Ferrer eternizado pela música de Astor
Piazzolla?
No teatro, basta citar “Marat Sade” de
Peter Weiss e no cinema o memorável e poético “Esse Mundo É dos Loucos” (Le Roi
de Coeur) de Philipe de Broca.
Sem esquecer de toda a obra de Nise da
Siveira.
De alguma maneira todas essas obras
têm em sua origem o livro “O Elogio da Loucura” escrito em 1508 pelo holandês
Erasmo de Rotterdam onde a deusa Loucura chega a exclamar: “Quanto mais
contrária ao bom senso é uma coisa, tanto maior é o número dos seus
admiradores, e constantemente se vê que tudo o que mais se opõe à razão é
justamente o que se adota com maior avidez. Perguntar-me-eis por que? Pois já
não vos disse mil vezes? É porque quase todos os homens são malucos.”[9]
Encerro esta introdução citando uma
frase de Samuel Beckett contida no insuperável “Esperando Godot”:
“Todo mundo nasce louco, só que
alguns permanecem”
2. LOKONA
Todas essas referências me vieram à mente
ao assistir a irreverente encenação de Dino Bernardi inspirada na obra de
Rotterdam brilhantemente adaptada para o teatro por ele e por Eduardo Akiyama.
Dino optou por uma versão tropicalista
(carnavalizada, segundo suas próprias palavras) colocando a loucura que tem o
nome de LouLou Divine em um programa televisivo apresentado por um mestre de
cerimônias tão louco quanto ela!
Após uma breve introdução do
apresentador, LouLou entra em cena com uma roupa amarela extravagante, envolta
em um enorme boneco inflável declamando “Quando Ismália Enlouqueceu”, o poema
de Alphonsus de Guimaraens.
O clima do espetáculo, impregnado de
um delicioso deboche, está criado e o público já se envolveu; a partir daí é só
acompanhar as peripécias de Lou Lou acompanhada por um, às vezes incrédulo, apresentador.
Tudo isso acompanhado pelas músicas, também irreverentes, tocadas ao vivo por
Fábio Evangelista. Sucedem-se cenas hilárias como aquela das perguntas ping
pong e aquela do caleidoscópio. Ao final fica a pergunta: Quem são os loucos
nesta modernidade ensandecida?
A extravagância da encenação só podia
contar com interpretações também extravagantes e Karina Giannecchini e Fernando
Aveiro o fazem de maneira brilhante. A garra e a energia de Karina são de tirar
o fôlego.
Rir sempre nos faz pensar em quanto
estamos rindo de nossa própria desgraça.
Felizmente somos desgraçadamente
loucos.
Não se assuste com o título da peça,
ele tem tudo a ver com aquilo que se vê no palco.
Divirta-se e pense a respeito.
LOKONA está em cartaz no aconchegante
Teatro Manás Laboratório de segunda a quarta às 21h até 17 de dezembro.
25/11/2025
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