Servilismo, arrivismo, ganância por
dinheiro e bens materiais podem ser assuntos de uma comédia? Leonardo Cortez e
Pedro Granato dão provas que sim.
Essa “Trilogia da Fuga” formada por “Pousada
Refúgio” (2018), Veraneio (2023) e “Os Vencedores” (2025) tem o poder nos fazer
rir de nossas desgraças; na ocasião em que assisti a “Pousada Refúgio”,
escrevi: “Ri-se muito durante o espetáculo, risos até nervosos, por mexerem
com valores do nosso cotidiano. Ao final, porém, resta aquele gosto amargo na
boca da maioria dos brasileiros que tem seus sonhos destruídos por uma
realidade cruel”
E essa sensação está mais presente
ainda em “Os Vencedores” que desde o título revela uma trágica ironia, pois
todas as personagens, incluindo o chefe milionário, são, de uma maneira ou de
outra, perdedores.
Sinopse da peça contida no programa “Na
noite de comemoração de casamento o casal Chico e Maria Rita se vê obrigado a
socorrer o patrão do marido Luiz Otávio acometido de um mal súbito”
O maior perdedor é Chico, um homem
medíocre que vive em função de bajular o chefe, concordando com tudo como uma
perfeita “vaquinha de presépio”. No momento em que tenta recuperar a sua
dignidade é muito tarde e ele acaba tendo um fim trágico, semelhante àquele de São
Sebastião; sua mulher Maria Rita tem uma trajetória inversa, inicia dignamente
contestando a presença do chefe do marido em sua casa, mas cede ao puxa saquismo/servilismo
no momento em que vê oportunidades de benefícios vindas de Luiz Otávio. O filho
frustrado do casal (Bernardo) também tenta se beneficiar das benesses do homem
rico. Há também a presença de Rivânia, simpaticíssima na aparência, que se
revela uma arrivista de primeira grandeza. Finalmente Luiz Otávio, que tem
poder e dinheiro, mas uma vida pessoal frustrada e amargurada. Enfim... TODOS
PERDEDORES!
E é nesse clima trágico que Cortez e
Granato nos fazem rir, mas também refletir de que maneira rasteja a humanidade.
Para tanto contam com o ótimo elenco formado por Gabriel Santana (Bernardo),
Glaucia Libertini (impagável como Rivânia), Lena Roque (a tensa Maria Rita),
Leonardo Cortez (Chico) e Luciano Chirolli que deita e rola na composição do
perverso, porém patético, Luiz Otávio.
Leonardo Cortez vem nos brindando com esse tipo de texto desde o memorável “Maldito Benefício” de 2014 e promete três novos trabalhos para 2026 que serão muito bem-vindos e dramaturgia brasileira agradece!
OS VENCEDORES está em cartaz no SESC Ipiranga até 14/12: sextas e sábados, 20h e domingos, 18h.
24/11/2025


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