O MÀXIMO NO TEATRO MÍNIMO
Teatro Mínimo é o nome do projeto do
SESC Ipiranga que abriga as peças apresentadas no seu pequeno auditório que comporta
apenas 30 espectadores; segundo a unidade “a
proximidade entre artistas e público é a marca do projeto, que parte de
montagens de pequeno porte com foco em dramaturgia e interpretação”.
Já
assisti a ótimos espetáculos naquele espaço, a maioria deles tratando-se de
monólogos, eis que agora lá se apresenta Condomínio
Visniec que desde já pode se
inscrever entre as melhores realizações do ano. A responsabilidade dessa
maravilha é de Clara Carvalho que idealizou e dirigiu a montagem com elenco
formado por atrizes e atores que participaram de uma oficina de teatro do Grupo Tapa coordenado por ela.
Tudo
funciona nesta tão bem sucedida montagem: no pequeno e vazio espaço cênico três
atores e três atrizes revezam-se em monólogos instigantes e surrealistas saídos
da imaginação prodigiosa de Matéi Visniec que constam do livro Teatro Decomposto ou O Homem-Lixo. A seleção dos monólogos e a
maneira como eles foram costurados na montagem é a primeira grande qualidade da
mesma; some-se a isso maneira criativa como a encenadora dispõe o coro enquanto
um dos atores faz a sua cena. Mais qualidades? Os soturnos figurinos desenhados
por Marichilene Artisevskis, o desenho de luz de Wagner Pinto e a trilha sonora
de Mau Machado que somados criam o ambiente necessário para a evolução da peça.
Todas
essas qualidades poderiam se perder se não houvesse elenco tão preparado para
contar as histórias de Visniec que, por escolha do grupo, centram-se naquelas
que versam sobre a solidão e o vazio existencial do homem contemporâneo.
Suzana
Muniz faz o elo das histórias com o monólogo O Corredor.
Ana Clara Fischer conduz com delicadeza A Louca Tranquila (o caso das borboletas
carnívoras) e a participação do coro neste quadro é belíssima.
Em
O Homem da Maçã, Felipe Souza
reveza-se em interpretar o homem e o bicho da maçã que ele está comendo. Engraçada,
trata-se quase de uma piada com desfecho muito bom.
Rogério
Pércore transpira energia com seu O Homem
do Cavalo.
Rafael
Levecki chega a assustar ao relatar o gosto da própria carne em O Comedor de Carne.
Finalmente
a excelente composição de Mônica Rosseto que sintetiza a montagem com seu
surpreendente O Adestrador.
Depois
de tanta bizarrice, sabiamente Clara fecha o espetáculo poeticamente com uma
fala de esperança do corredor, que depois de correr compulsivamente vai chegar
até o mar e comenta: “Vocês sabem, no mar
é preciso entrar limpo, sempre”.
É
muito harmoniosa esta madura e poética direção de Clara Carvalho; essas
qualidades que já estavam presentes em outra montagem de Visniec (A Máquina Tchekhov) que ela dirigiu em parceria com Denise Weinberg em 2015 agora
consolidam-se com Condomínio Visniec.
É
o máximo no mínimo!
Como
admirador um pouco fanático pela obra de Visniec senti falta de outros
excelentes monólogos constantes do livro, mas é claro que seria insano encenar
todos eles. Querer mais seria gulodice e “ser enxuto” é mais uma das qualidades
do espetáculo.
CONDOMÍNIO
VISNIEC está em cartaz no SESC Ipiranga apenas até 07 de abril, às quintas e
sextas às 21h30, aos sábados às 19h30 e aos domingos às 18h30.
É
BOM DEMAIS, PARA VOCÊ SE DAR AO LUXO DE PERDER!
O TEATRO NOS UNE
O TEATRO NOS FAZ FORTES
VIVA O TEATRO!
26/03/2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário