Conhecedor
da obra e do pensamento de Pedro Granato e levando em conta o título da peça,
fica clara a intenção dos primeiros 40 minutos da mesma. Trata-se, a meu modo
de ver, de um mal (talvez) necessário, porém ele é encenado de maneira ultrarrealista,
sem um pouco de humor ou ironia para provocar o distanciamento crítico (Fala,
Brecht!) no público, o que provoca reação obediente, cega e passiva das pessoas,
tornando toda aquela pregação muito irritante, chata e, eu diria, até perigosa.
A harmonia e até certa beleza que o encenador coloca nas cenas corais, assim como o cenário e os recursos de iluminação, enfatizam o perigo citado acima, pois
glamourizam o ambiente sórdido que
está sendo mostrado. A
partir do discurso gravado do chamado Patriarca (intervenção brilhante de
Danilo Grangheia) se instaura o conflito entre o que está sendo apresentado e o
que o autor quer dizer e a partir daí o espetáculo se torna bem mais dinâmico e
interessante.
Pedro
Granato gosta de surpreender o público e de jogá-lo no meio do fogo. Isso já ocorria
em Os Onze Selvagens e com maior
intensidade em Fortes Batidas. O que
acontece a seguir não é recomendável que se comente, sob pena de estragar a
surpresa e o impacto final.
O
que falta em experiência sobra em energia nos jovens que compõem o elenco, com
destaque para as fortes intervenções da mulher grávida e do casal de lésbicas.
Apesar
dos senões, Distopia Brasil é
trabalho a ser visto e refletido principalmente pelos jovens, em função do
momento trágico pelo qual o Brasil está passando. Mais trágico ainda é pensar
que se o país continuar no galope do atual governo vamos realmente chegar à
distopia apresentada na peça, a não ser que... NÃO, NÃO VOU CONTAR O FINAL!
DISTOPIA
BRASIL está em cartaz no Centro Cultural São Paulo às sextas e sábados (21h) e
aos domingos (20h) até 21/04. Grátis.
30/03/2019
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