É
muito bom testemunhar que a cada novo espetáculo a Companhia de Teatro Heliópolis cresce tanto técnica como
artisticamente.
Este
novo trabalho tem requintes de cenografia e de iluminação dignos dos melhores
espetáculos que se realizam na cidade, mas isto ecoaria no vazio se os lados
artístico e militante não estivessem presentes. Uma vista d’olhos na ficha
técnica com os nomes dos profissionais envolvidos no projeto revela os cuidados
com a atual produção.
A
montagem de Miguel Rocha, cujo
texto foi escrito em processo colaborativo com Evill Rebouças, transita harmoniosamente entre o teatro épico e o
teatro performático mostrando e demonstrando o quanto a justiça neste Brasil é
parcial e injusta, por meio da história de Cerol, rapaz pobre e negro que
acidentalmente matou uma mulher e sofre os desmandos de um tribunal
preconceituoso. A encenação sugere uma interatividade com a plateia escolhendo
algumas pessoas do público como júri, mas isso fica só na intenção gerando
certa “frustração” nos escolhidos.
A
trilha sonora excepcional de Meno Del Picchia à base de muita percussão e de
solos hipnotizantes de cello (Amanda Abá) comenta toda a ação de forma
brilhante.
Dalma
Régia e David Guimarães, os atores mais antigos do grupo, desincumbem-se bravamente
das principais intervenções seguidos de perto por Walmir Bess. Os três têm
momento excelente na cena do tribunal, no embate entre o promotor (Dalma),
David (advogado de defesa) e Walmir (juiz). Bonita presença no elenco do menino
Gustavo Rocha, filho de Dalma e Miguel.
Miguel
Rocha faz sua encenação mais sofisticada, no melhor sentido que esta palavra possa
ter, revelando sábio equilíbrio entre as cenas épicas e as performáticas de
conjunto, estas muito bem coreografadas (a direção de movimento é assinada pelo
diretor e por Lúcia Kakazu) e acompanhadas pela já citada surpreendente trilha
sonora.
Próximo
ao final há, ao meu modo de ver, uma longa cena onde Dalma e David, com uso épico
de microfones, exageram na maneira como denunciam mortes e assassinatos de
minorias ocorridos no Brasil desde o descobrimento. A denúncia é necessária,
mas surtiria mais efeito caso fosse interpretada de maneira menos dramática e
mais distanciada.
A
Companhia de Teatro Heliópolis tem
sua sede na Casa de Teatro Maria José de Carvalho (Rua Silva
Bueno, 1533 – Ipiranga) e é administrada pelo grupo cuja maioria reside na
favela de Heliópolis. A casa é muito bonita e o grupo realiza trabalho
artístico altamente profissional que precisa ser conhecido e prestigiado pelo
público e pela crítica paulistana.
(IN)JUSTIÇA
está em cartaz às sextas e sábados às 20h e aos domingos às 19h até 19 de maio.
Pague quanto puder.
13/03/2019
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