sexta-feira, 26 de abril de 2019

A NOITE DOS DESESPERADOS




        O meu amigo e crítico de cinema Luiz Gonzaga, eventualmente escreve sobre os espetáculos teatrais a que assiste. Luiz inicia matéria sobre a peça Apenas o Fim do Mundo da seguinte maneira: “DI-LA-CE-RAN-TE! A-VAS-SA-LA-DOR! Me digam: como é que a gente não explode depois de ver... Não! Me enganei! A gente explode, sim. Eu explodi
        Hoje sou eu que entro na seara de Luiz escrevendo sobre uma experiência cinematográfica e pedindo licença para iniciar com a mesma frase:
        DI-LA-CE-RAN-TE! A-VAS-SA-LA-DOR! Me digam: como é que a gente não explode depois de assistir a A Noite dos Desesperados? Não! Me enganei! A gente explode, sim. Eu explodi!
        Trata-se de um dos filmes que mais me marcaram. Está entre os 20 melhores filmes da minha vida de cinéfilo. Devo ser masoquista, pois é também um dos filmes mais cruéis e mais tristes a que já assisti. Vi pela primeira vez no início dos anos 1970 (o filme é de 1969) e depois só o revi na telinha da TV, sempre com o mesmo impacto.
        Eis que, em apenas duas sessões, ele está sendo apresentado em excelente cópia na telona do Centro Cultural São Paulo, que tem ótima projeção. A primeira sessão ocorreu na quarta feira, dia 24/04 e a próxima será no domingo, dia 28/04 às 17h30. Conclamo todos seres humanos para essa experiência DILACERANTE e AVASSALADORA. E não expluda (ou exploda), quem for capaz!
        O título original do filme They Shoot Horses, Don’t They? é o mesmo do romance de Horace McCoy, no qual é baseado. Em português seria algo como Mas Se Mata Cavalos, Não É? Por sinal, título bem mais rico e significativo do que A Noite dos Desesperados.
        A ação do filme acontece durante a grande depressão americana dos anos 1930 em uma maratona de danças, onde os participantes são submetidos a  torturante competição com o objetivo de ganhar 1500 dólares, prêmio para o último casal resistente. Há momentos quase insuportáveis de se aguentar como aqueles das duas corridas a que o grupo é submetido. O filme é uma clara metáfora às privações e manipulações que o ser humano tem de suportar para poder sobreviver e depois de 50 anos continua atualíssimo.
        Um elenco estupendo dá vida às pobres personagens ali presentes: Susannah York é uma aspirante a atriz que tenta colocar glamour naquele mundo sórdido (sua cena de loucura no chuveiro é antológica), Gig Young interpreta o frio e calculista mestre de cerimônias, Michael Sarrazin é o sensível rapaz meio caipira que faz dupla dançante com Gloria, a personagem sofrida de Jane Fonda que tem a maior interpretação de sua carreira e, quiçá, uma das maiores de toda a história do cinema. Testemunhar o trabalho de Jane Fonda neste filme reveste-se de verdadeira descida nas profundezas da alma humana. Experiência inesquecível. O restante do elenco é impecável, cabendo destacar o marinheiro de Red Buttons, a garota grávida de Bonnie Bedelia e seu marido Bruce Dern.


        A meu modo de ver, Sydney Pollack realizou com este trabalho o grande filme de sua vida.

        26/04/2019
       


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