O
dramaturgo pernambucano Newton Moreno está de volta a um universo que lhe é
caro: o sertão nordestino e os seres que ali (sobre)vivem. Moreno já visitou
esse cenário em espetáculos memoráveis como Agreste,
Assombrações do Recife Velho e Memórias da Cana e agora a ele retorna
para contar a luta de um bando de mulheres contra a opressão exercida sobre
elas pelos homens da região. O texto é ágil e poético e encontra igual
dinamismo na bela tradução cênica de Sergio Módena.
A
encenação de Módena não tem tempos mortos com dinâmica entrada e saída de cena
dos grupos antagonistas (mulheres versus homens). A itinerância das personagens
e essa movimentação do elenco têm grande aliado no sóbrio e criativo cenário de
Marcio Medina que também se movimenta durante todo o espetáculo e é emoldurado
pelas luzes criadas por Domingos Quintiliano. Destaque para os figurinos
criados por Fábio Namatame que parecem ter vindo diretamente do sertão
nordestino para o palco do SESI. A coreografia de Erica Rodrigues se adéqua às características das atrizes e atores que não são dançarinos, mas que se saem muito bem nos números de conjunto.
A
trilha sonora assinada pelo autor e por Fernanda Maia tem uma perfeita
adequação entre as letras e as melodias e por sua beleza merece uma gravação
que sobreviva à montagem da peça. A direção musical impecável de Fernanda
Maia se concretiza com as interpretações dos músicos presentes no fundo do
palco.
O
elenco feminino (sete cangaceiras) afinadíssimo tem a sempre ótima e versátil
Amanda Acosta á sua frente como a líder combativa Serena, mas dá chance a
ótimos momentos de Luciana Lyra e Carol Badra (impagável como a Zaroia), duas
remanescentes do grupo Os Fofos Encenam,
do qual o dramaturgo também faz parte. Do elenco masculino (seis cangaceiros)
se sobressaem Marco França como o selvagem Taturano e Pedro Arrais, responsável
por alguns momentos de humor, como o engraçado Volante. São destaques, mas cabe
ressaltar que os treze intérpretes são muito talentosos e o resultado de suas
interpretações é coeso e harmonioso, mérito que também precisa ser dividido com
o diretor Sergio Módena.
Como
se vê tudo funciona neste espetáculo que louva a liberdade e a dignidade não só
da mulher, mas de todo ser humano. A cena final é uma das mais catárticas
apresentadas nos nossos palcos nos últimos tempos. Com lágrimas nos olhos e uma
vontade imensa de lutar pelos seus direitos, o público abandona a sala de
espetáculos entoando as palavras da última canção e com esperança no coração.
AS
CANGACEIRAS – GUERREIRAS DO SERTÃO está em cartaz no Teatro do SESI de quinta a
sábado às 20h e aos domingos às 19h até 04/08. Entrada gratuita. NÃO DEIXE DE
VER.
27/04/2019
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