terça-feira, 9 de abril de 2019

TRANSAMAZÔNICA


        Transamazônica segundo o programa da peça homônima é uma “estrada que liga nada a lugar nenhum”, projeto megalomaníaco de governos prepotentes que causou enorme e irreversível dano ao meio ambiente e aos habitantes da região. O dramaturgo paraense Rudinei Borges dos Santos nos propõe uma viagem por vários trechos dessa estrada especificando o quilômetro e a cidade visitada.
        Em um prólogo, cinco capítulos e um epílogo o público toma conhecimento de sete situações vividas por colonos, indígenas, pistoleiros e crianças narradas e interpretadas com garra pelos atores Geraldo Fernandes e Leandro Lago. As narrativas são acompanhadas por canções regionais e pelo som hipnotizante criado ao vivo pelo carismático Juh Vieira cuja presença e som são tão envolventes que chegam a desviar a atenção do espectador.
        Com sua veia poética e facilidade em lidar com as palavras Rudinei trata de assuntos sérios e até trágicos com muita delicadeza e beleza, haja vista o belíssimo e triste capítulo Iraxeru onde o espírito de uma menina retorna ao local onde era sua aldeia e esta não existem mais e até aquele dos pistoleiros onde se cita de passagem o assassinato de uma, assim chamada, freira comunista, referência à missionária Dorothy Mae Stang (1931-2005) sobre o assassinato de quem o dramaturgo tinha a intenção de escrever uma peça, mas foi impedido de viajar à BR-230 por notícias de violência na região. Esperemos que isso ainda venha a ocorrer, para que o teatro também se torne testemunha desse trágico fato que aconteceu em 2005 na localidade de Anapu (Km 2375 da estrada, segundo a peça).
        O cenário sóbrio de Telumi Hellen é um espaço cênico vazio com um longo pano vermelho ao fundo, talvez simbolizando todo o sangue já derramado na região. A iluminação de Decio Filho direciona a ação dos atores.
        O programa, além de bonito, contém o texto completo da peça.

        TRANSAMAZÔNICA está em cartaz na SP Escola de Teatro às sextas, sábados e segundas às 21h e aos domingos às 19h até 22/04. Ingressos gratuitos.

        09/04/2019


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