A
comparação pode parecer banal e até vulgar, mas não posso deixar de
compartilhá-la: Kintsugi não é Skol,
mas como desce redondo!
Trata-se
do novo espetáculo do Grupo Lume de
Campinas. A entrada em cena dos quatro atores brindando com saquê (que será “personagem”
importante ao longo do espetáculo) já antevê o ambiente de camaradagem que
permeará toda a apresentação, ou quase toda, pois há uma movimentada cena de
insultos (!) quase ao final da mesma.
O
vaso que adorna o centro do espaço cênico quando o público adentra a sala será
quebrado logo no início da peça, sendo reconstruído ao longo da mesma, assim
como são reconstruídas as memórias dos atores por meio de objetos que vão sendo
colocados sobre o chão. Kintsugi é
uma palavra japonesa que significa emenda com ouro e a emenda das memórias dos
atores é realizada com o ouro de seus talentos e oferecida generosamente ao
público.
O
processo de criação do espetáculo iniciou com a ideia de pesquisar o mal de
Alzheimer (no transcorrer da peça são apresentados os casos de três portadores
dessa doença), mas depois se ampliou para a memória de maneira geral e a peça
acaba sendo quase um retrospecto da trajetória do grupo que completa 34 anos em
2019. Há até uma simpática invocação do fantasma de Luís Otávio Burnier
(1956-1995), fundador do Lume, falecido precocemente. O mote para isso é uma
confraternização de fim de ano do grupo onde há uma discussão que é apresentada
em 12 versões realistas e uma utópica.
É
impossível não se identificar e não se emocionar com histórias e/ou objetos apresentados
nas 100 memórias mostradas durante a apresentação. No programa há um inventário
delas.
É
inegável a empatia criada entre atores e público e isso se deve às espontâneas
interpretações de Ana Cristina Colla, Jesser de Souza (emocionante ao falar a
poesia de Álvaro de Campos), Raquel Scotti Hirson (muito parecida com o Harpo
Marx) e Renato Ferracini.
A
ficha da montagem é extensa e rica tanto na criação como na parte técnica. A
direção, realizada com muita sensibilidade, é do argentino Emilio García Wehbi.
Fato
que a memória pode trair: o espetáculo me remeteu a outro do Lume com o mesmo
quarteto a que assisti há cerca de 20 anos: o delicioso Café Com Queijo.
KINTSUGI,
100 MEMÓRIAS encerra temporada no SESC Avenida Paulista no próximo fim de
semana (23/06). Sessões de quinta a sábado às 21h; domingos e feriados às 18h.
Sessão extra no dia 19 (quarta) às 21h. IMPERDÍVEL
16/06/2019
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