Quem
já não encontrou um velho conhecido em um vagão de metrô ou já não teve o dedão
do pé chupado por um conquistador inconveniente? Quem, ainda, não questionou ao
final de uma novela: Quem fica com quem?
Um
vasto painel de figuras solitárias vivendo em centros urbanos é o que propõem
os autores Josè Eduardo Vendramini e Marcelo Braga em seu novo espetáculo. Se
eu tivesse que escolher uma imagem para sintetizar este trabalho, não teria a
menor dúvida de recorrer a um quadro de Edward Hopper e, em especial, aquele
intitulado Nighthawks (Falcões da Noite) que reproduzo
abaixo. Seres carentes em busca de alguém que preencha suas solidões, mas que
na maioria das vezes só encontram frustração e um vazio ainda maior.
Dito
dessa maneira pode-se entender que o espetáculo é pesado e depressivo, mas
não é o que acontece, pois os autores souberam dosar esse universo com pitadas
de humor e graça.
Algumas
personagens retornam ao longo da narrativa (a jovem Mariana, a ninfomaníaca que
aborda todos os entregadores que chegam à sua casa e o gay enrustido Rodrigo) e
outras surgem e desaparecem (para se ter uma ideia, a atriz Valéria Lauand
defende bravamente oito papeis na hora e meia do espetáculo).
A
cenografia de Hémon Vieira, a iluminação de Aline Santini e as projeções de
André Grynwask e Pri Argoud colaboram com os encenadores/autores para dar um
tom leve e agradável ao espetáculo.
O
elenco, bastante harmonioso, cuida bem dos vários personagens que interpretam,
permanecendo no espaço cênico em seus camarins, mesmo quando não fazem parte da
cena em curso. Propositalmente ou por acaso as mulheres ficam do lado esquerdo
e os homens do lado direito do palco. É muito bom o recurso de fazer os que não
estão na ação entregarem adereços (copos, pratos, roupas) para aqueles que
estão atuando, assim como eles reagirem junto com o público ao que está
acontecendo em cena.
Esta
é a terceira peça a que assisto que conta com a participação da jovem Ana
Carolina Capozzi e é gratificante notar a sua evolução como atriz. Salete Fracarolli
é responsável por bons momentos de humor como a ninfomaníaca. Clóvis Gonçalves
empresta seu talento tanto ao gay afetado que tenta seduzir o jovem Rodrigo em
uma boate como ao machão caipira que tem quatro filhos e quer adotar quatro
sobrinhos órfãos. Alex Moreira é uma ótima surpresa como o jovem Rodrigo e,
principalmente, como o jovem da Brasilândia que encontra uma ex-namorada no
metrô (cena que abre e fecha a peça e que, para mim, é a melhor do espetáculo).
Valéria Lauand tem talento e carisma para enfrentar seus oito personagens,
tendo seu grande momento na cena do pronto socorro. E finalmente, Luciano Gatti
que usa e abusa do seu talento cômico em diversas cenas, como aquela em que com
um bonezinho na cabeça ele timidamente dança a Pata Pata com uma descontraída senhora (Valéria Lauand), aqui é impossível
não se lembrar de Charlie Chaplin, tanto no visual como no gestual (só faltou a
bengalinha em sua saída de cena); mas é importante dizer que Gatti também se
sai muito bem nas cenas dramáticas.
Quem
Fica Com Quem é espetáculo muito agradável de ver, mesmo deixando ao final um
gosto amargo na boca do espectador ao concluir que na realidade o mocinho não
fica com a mocinha e na maioria das vezes NINGUÉM FICA COM NINGUÉM.
QUEM
FICA COM QUEM está em cartaz no Viga Espaço Cênico às sextas e aos sábados às
21h e aos domingos às 19h até 28/07.
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