Há
muita delicadeza e muita singeleza neste texto de Claudia Barral. Delicadeza e
singeleza tão raras nos dias conturbados que vivemos que é um verdadeiro alento
parar o tempo por uma hora para testemunhar que para a protagonista Tereza o
tempo só passa para ela esperar pelo resto de sua vida um Antonio que virá, que
virá, que virá...
O texto de Barral é pleno de poesia e beleza e
Daniel Alvim soube conservar essas qualidades na ótima montagem ora em cartaz
no SESC Santo Amaro.
Em
2007 o grupo Sinhá Zózima dirigido
por Anderson Maurício já havia montado esse texto que era representado dentro
de um ônibus e agora Alvim faz uma nova leitura do mesmo.
A
trama é muito simples: três irmãs têm uma vida simples no sertão nordestino à
beira do Rio São Francisco, a caçula Tereza está prometida para o matuto José,
mas ao apaixonar-se por Antonio que ela conheceu ao acaso no cais, ela jamais
pensará em outro homem, malgrado as interferências das duas irmãs e a espera
eterna pelo homem que viu uma única vez. A história tem desdobramentos trágicos
beirando o melodrama, o qual tanto a autora como o diretor sabem dosar.
A
direção de Daniel Alvim é de uma delicadeza ímpar valendo-se das belas canções
criadas por Dadi Barral para criar o clima necessário ao espetáculo. São
importantíssimos os silêncios que pontuam toda a encenação e que muitas vezes
transmitem muito mais que as palavras. Apesar de estarmos no sertão nordestino
um suave vento tchekhoviano sopra durante toda a peça. O tablado criado pelo
cenógrafo André Cortez onde se desenvolve toda a ação é bonito e bastante
flexível; ele está aparentemente apoiado em bacias cheias de água que poderiam
representar o Rio São Francisco.
Um
elenco primoroso dá vida às personagens criadas por Claudia Barral: as três
irmãs são interpretadas com muito carinho por Helena Ranaldi, Patrícia Gasppar
e Débora Gomez, todas elas, de alguma maneira, esperando que um dia as coisas tomem
um novo rumo (olha aí, Tchekhov!). Rogério Romera com seu belo porte é o
narrador da história e intérprete das canções dedilhando o seu violão. Luciano
Gatti representa com muita garra o matuto José, poço de frustrações que ele
transforma em ódio desencadeando o trágico final da história. Trágico não para
Tereza que vai continuar a esperar o seu Antonio.
O
texto Rio adentro e suas histórias de
Daniel Alvim constante do programa é um bônus poético que complementa o
espetáculo e não pode deixar de ser lido.
CORDEL
DO AMOR SEM FIM está em cartaz só até o próximo fim de semana (08/09). Quinta e
sexta (21h), Sábado (20h) e Domingo (18h30). IMPERDÍVEL!
01/09/2019
Ótima resenha, Cetra. Concordo com tudo. No dia que eu assisti, metade dos assentos estavam vazios. Uma pena, pois a peça é excelente.
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