Os
desavisados que não conhecem Sylvety Montilla podem pensar que se trata de uma
peça de temática indígena; aqueles outros que se concentram apenas no título
talvez pensem que se trata de uma brincadeirinha gay com trejeitos e dublagens
da Donna Summer.
Inhaí diverte sim, mas também faz
pensar! Ao entrar no espaço cênico o público se encontra com os três alegres
atores vestidos com macacões que têm a cor da pele do quase homônimo animal, a
seguir, dançando e cantando no melhor estilo gay, eles se apresentam para
depois dar algumas versões da origem de se chamar homossexual masculino de
viado. O animal veado surge a seguir numa verdadeira aula de seus usos e
costumes, sendo que a união na luta contra as adversidades presente na raça
pode e deve ser um símbolo para a união entre os homossexuais e as minorias.
No
melhor estilo de teatro documentário, o espetáculo mostra por meio das
pesquisas realizadas pelo grupo, o preconceito, a perseguição e o extermínio de
viados, coisa que vem desde a época dos jesuítas portugueses que explodiram um
índio homossexual na boca de um canhão, sendo que para os índios a
homossexualidade era uma coisa normal. Triste mundo dito civilizado!
Por
meio de fatos reais e histórias fictícias, incluindo uma delicada e gostosa
participação da plateia, os versáteis Fernando Pivotto, Alexia Twister e Cayke
Scalloni entretém o receptivo público por hora e meia, divertindo e fazendo
pensar não só sobre o mundo gay, mas sobre a intolerância cada vez mais
presente na sociedade brasileira. Alguns assuntos bastante pertinentes como a
AIDS e a tal de “cura gay”, não são tratados da peça; fato bem observado por
Pivotto que em certo momento comenta que ali há apenas um recorte sobre o
assunto e que outros recortes devem ser procurados e pesquisados. Inhaí, não é só coisa de viado, é coisa
de gente de uma maneira geral. A peça precisa atingir um público além da bolha.
ISSO É MUITO NECESSÁRIO!
Não
há como não citar a discreta, mas bastante segura direção do estreante Cezar
Zabelli que consegue equilibrar o espetáculo entre seus momentos divertidos e
aqueles sérios e documentais.
INHAÍ-COISA
DE VIADO está em cartaz no Teatro Pequeno Ato só até o próximo fim de semana.
Sexta e sábado às 21h. NÃO DEIXE DE VER, ou você (viado ou não) tem algum
preconceito??
OBS: Um bom complemento para este espetáculo é o livro Devassos no Paraíso de João Silvério Trevisan, recém reeditado.
22/09/2019
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