1. Uma introdução
Tenho um amigo, figura influente de nosso
teatro, que abomina monólogo. Argumenta que monólogo não é teatro e que os
pouquíssimos bons monólogos a que assistiu eram exceções que comprovavam a
regra!
Até
a metade da década de 1960 eram raras as montagens com menos de três atores. Os
espetáculos do TBC e mesmo do Arena e do Oficina tinham elencos numerosos. O
único monólogo que marcou época nesse início de década foi Diário de Um Louco (1965) na interpretação do grande Rubens Corrêa.
O sucesso em
1969 de O Cão Siamês de Antonio Bivar (posteriormente rebatizada como Alzira
Power) - com uma interpretação antológica de Yolanda
Cardoso - e as dificuldades de produção devido à eterna crise do teatro, agora
intensificada pela ação da censura, levaram alguns autores a escreverem textos
com duas personagens, entre eles algumas obras primas, como O Assalto de José Vicente e,
principalmente, Fala Baixo Senão Eu Grito de Leilah Assumpção, com Marília Pêra e Paulo Villaça. Completavam a lista desse ano: As Moças de Isabel Câmara e À Flor
da Pele de Consuelo de Castro, mas os monólogos
continuavam raros. Só nos anos 1970 é que eles marcam presença com A Vinda do Messias (1970) com Berta
Zemel e Apareceu a Margarida (1974),
momento maior de Marília Pêra.
Com pouca incidência até
o final do milênio, o monólogo atinge força total na segunda metade da segunda década
deste século atingindo a considerável número de uma centena de espetáculos por
ano (cerca de 20% do total de peças apresentadas nos palcos paulistanos).
Alguns excelentes, outros razoáveis e outros francamente ruins, como qualquer
outro espetáculo quer seja monólogo ou não.
2. Eu de Você
Denise
Fraga aderiu ao monólogo e o faz com seu talento e sua graça habituais.
Dirigida por Luiz Villaça, ela foi buscar em relatos de pessoas comuns, as
histórias que compõem o novo espetáculo. Acompanhada por um trio de músicas, Denise
interpreta, canta e dança em cena mostrando com muita humanidade os dramas e
comédias de seres humanos iguais a ela, a mim e a você. Os relatos sofreram
tratamento dramatúrgico e o texto final assinado a seis mãos por Rafael Gomes,
Denise e Villaça apresenta-se coeso e harmonioso.
O
espaço cênico contém três telões onde são projetadas fotos das pessoas que
enviaram suas narrativas e a iluminação de Wagner Antônio colore esses telões
nos momentos adequados a cada emoção. Esses elementos mais a participação
preciosa das três músicas (Fernanda Maia, piano; Clara Bastos, guitarra e
Priscila Brigante, bateria) são os recursos disponíveis e o resto é com Denise
Fraga que circula pela plateia, interage com o público fazendo-o até cantar.
E
já que escrevemos sobre monólogos é bom lembrar que na mesma semana estreou no
Teatro Porto Seguro Alma Despejada
com Irene Ravache. Mais uma exceção para comprovar a regra do meu amigo???
3. O novo Teatro Vivo
E
o Teatro Vivo está de cara nova! A
sala de espera bem mais iluminada; a sala de espetáculos e o palco dão a
impressão de terem ficado mais amplos, além de significativa melhoria na
acústica. É uma felicidade ver uma empresa privada investindo em cultura. Viva
a Vivo!!
Na
reabertura da casa, Eu de Você, que é
apresentada às sextas (20h), aos sábados (21h) e aos domingos (19h) está em boa
companhia: o excelente espetáculo Ordinários
da Cia. LaMínima apresenta-se às
quartas e às quintas (20h).
(*) Endereços das matérias sobre esses
espetáculos.
23/09/2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário