Conheço
muito pouco sobre o escritor sul-africano J.M. Coetzee, ganhador do Prêmio
Nobel de literatura de 2003 e que completa 80 anos no próximo dia 09 de
fevereiro. Informações colhidas na Wikipédia e notas de roda pé de alguns
de seus livros eram tudo o que eu sabia sobre ele ao adentrar o espaço cênico
onde os espectadores são carinhosamente recebidos pela atriz e pelo diretor do
espetáculo.
Elizabeth
Costello é uma personagem criada pelo autor (que deve conter muito dos seus pensamentos e de seus valores) para o romance do mesmo nome que
impactou Lavínia Pannunzio quando de sua leitura e que a atriz junto com o diretor
Leonardo Ventura transformaram nesse trabalho de forte impacto emocional.
Cada
frase emitida pela personagem é de tal profundidade e tão cheia de significados
que quase não dá tempo de absorvê-la, pois já vem outra tão profunda e tão significativa
quanto a anterior. Lavínia, com sua estonteante presença cênica, consegue
contornar essa dificuldade com sua movimentação e uma dicção digna da profissão
que ela exerce com tanta paixão. Muitos são os temas que Elizabeth traz à tona
e seria leviano de minha parte analisar o texto sem tê-lo lido e ainda imbuído da
forte emoção que senti ao assistir ao espetáculo. Com mais razão que emoção,
talvez eu conseguisse fazê-lo. De qualquer maneira me atrevo a dizer que mais
do que tudo tanto o texto como a encenação transpiram HUMANIDADE, algo tão raro
nos dias de hoje.
A
encenação de Leonardo Ventura é coisa de ourives, pois manipula com mestria a
arte dourada da atriz Lavínia Pannunzio que tem a interpretação mais marcante
de sua invejável carreira [ela já brilhou como a Leninha de O Abajur Lilás (2001) (lembramos-nos
disso na noite de ontem, após a apresentação), o Pozzo de Esperando Godot (2006), a Madame Clessy de Vestido de Noiva (2013), a Dona GuiGui de Boca de Ouro (2017) e tantos outros significativos trabalhos que
haveria necessidade de muitas laudas para relacioná-los]. De qualquer maneira,
ao que eu saiba, este é o primeiro solo de Lavínia e com certeza ficará como um
marco de sua trajetória artística. É a atriz na plena maturidade de seu ofício.
Luminosa
também é a arte de Aline Santini, que de posse das características do espaço
cênico e do cenário (no caso, clean e
bastante eficiente, de Chris Aizner) os reveste de luzes que comentam e
enriquecem a ação da peça.
Elizabeth
Costello é uma soma de talentos raramente encontrada em nossos palcos e merece
longa carreira para difundir o pensamento de Coetzee e o imenso talento de
Lavínia Pannunzio.
ELIZABETH
COSTELLO está em cartaz no TUSP apenas até 16/02. Quarta a sábado, 21h e
domingo, 20h. CORRA!!!
01/02/2020
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