domingo, 16 de fevereiro de 2020

POR QUE NÃO VIVEMOS...


... da maneira que queríamos ter vivido.
 

        Essa é uma pergunta constante na obra do dramaturgo Anton Tchekhov (1860-1904). Nota-se o verbo querer no passado, ou seja, a inércia somada à falta de oportunidades faz com que seus personagens fiquem sempre no mesmo lugar sofrendo de tédio e falta de perspectivas, enquanto os oportunistas e novos donos do poder e do dinheiro se aproveitam de suas decadências morais e financeiras.
        O tema já está presente nesta obra de juventude escrita quando o autor tinha apenas 18 anos e que foi esquecida por ele durante toda sua vida, vindo a ser descoberta em suas gavetas pelo irmão após sua morte.

        Marcio Abreu da curitibana Companhia Brasileira de Teatro realiza encenação original e criativa a partir dessa obra inacabada muito bem adaptada por ele e por suas companheiras de companhia,  Nadja Naira e Giovana Soar.
 
 
        O primeiro ato se passa em uma reunião/festa na residência de Ana Petrovna (a partir de agora escreverei alguns nomes na dúvida porque, infelizmente, o programa não cita o nome das personagens) onde os participantes se divertem, bebem muito, se entediam e lavam muita roupa suja em volta e sobre a mesa. A cena é realizada tanto no palco como na plateia, envolvendo o público como participante da festa. O ato termina com uma celebração (de ano novo?) onde a personagem Sophia, vivida com muita intensidade por Josi Lopes, canta e dança uma música contagiante com a participação do elenco e do público.
 
Foto de Nana Moraes

        Mudança radical de cenário no segundo ato onde em um palco escuro o personagem Platonov dialoga com várias das outras personagens da trama, em especial com as três mulheres (Ana, Maria e Sophia) com quem ele se envolveu.

        O elenco da peça é impecável com excelente domínio da cena e dos movimentos (orquestrados por Marcia Rubin). Arrisco a fazer alguns destaques apesar da excelência do todo: Rodrigo dos Santos tem o papel de maior destaque (Platonov) e se sai muito bem com sua ótima dicção e presença cênica; Camila Pitanga empresta graça e sensualidade à sua Ana Petrovna; Rodrigo Ferrarini volta a brilhar em espetáculos da Companhia Brasileira de Teatro, agora como o patético Nikolai; Rodrigo Bolzan tem talento e presença suficientes para seu personagem esbravejante mendigo/ladrão/assassino; Josi Lopes encanta tanto como atriz quanto como cantora. Cris Larin, Edson Rocha e Kauê Persona completam, também com muito brilho, o elenco deste importante e oportuno espetáculo.
        Oportuno porque não deixa de haver inércia e passividade de nossa parte diante dos descalabros desse funesto governo brasileiro. Ao final do espetáculo, a atriz Camila Pitanga leu manifesto repudiando a censura e as ações do tal governo.
 
 

        POR QUE NÃO VIVEMOS está em cartaz no Teatro Cacilda Becker em dois períodos:

        - De 13/02/2020 a 01/03/2020: Quinta a sábado (20h), domingo (19h)

        - De 20/03 a 19/04: Sexta e sábado (20h), domingo (19h)

        O espetáculo tem duração de 150 minutos com 15 minutos de intervalo. FUNDAMENTAL para quem ama teatro e a obra de Tchekhov.

        16/02/2020

 

 

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