... da maneira que
queríamos ter vivido.
Essa
é uma pergunta constante na obra do dramaturgo Anton Tchekhov (1860-1904).
Nota-se o verbo querer no passado, ou seja, a inércia somada à falta de
oportunidades faz com que seus personagens fiquem sempre no mesmo lugar
sofrendo de tédio e falta de perspectivas, enquanto os oportunistas e novos
donos do poder e do dinheiro se aproveitam de suas decadências morais e
financeiras.
O
tema já está presente nesta obra de juventude escrita quando o autor tinha
apenas 18 anos e que foi esquecida por ele durante toda sua vida, vindo a ser
descoberta em suas gavetas pelo irmão após sua morte.
Marcio
Abreu da curitibana Companhia Brasileira de Teatro realiza encenação original e
criativa a partir dessa obra inacabada muito bem adaptada por ele e por suas
companheiras de companhia, Nadja Naira e
Giovana Soar.
O
primeiro ato se passa em uma reunião/festa na residência de Ana Petrovna (a
partir de agora escreverei alguns nomes na dúvida porque, infelizmente, o
programa não cita o nome das personagens) onde os participantes se divertem,
bebem muito, se entediam e lavam muita roupa suja em volta e sobre a mesa. A
cena é realizada tanto no palco como na plateia, envolvendo o público como
participante da festa. O ato termina com uma celebração (de ano novo?) onde a
personagem Sophia, vivida com muita intensidade por Josi Lopes, canta e dança uma
música contagiante com a participação do elenco e do público.
Foto de Nana Moraes
Mudança
radical de cenário no segundo ato onde em um palco escuro o personagem Platonov
dialoga com várias das outras personagens da trama, em especial com as três
mulheres (Ana, Maria e Sophia) com quem ele se envolveu.
O
elenco da peça é impecável com excelente domínio da cena e dos movimentos
(orquestrados por Marcia Rubin). Arrisco a fazer alguns destaques apesar da
excelência do todo: Rodrigo dos Santos tem o papel de maior destaque (Platonov)
e se sai muito bem com sua ótima dicção e presença cênica; Camila Pitanga empresta
graça e sensualidade à sua Ana Petrovna; Rodrigo Ferrarini volta a brilhar em
espetáculos da Companhia Brasileira de Teatro, agora como o patético Nikolai;
Rodrigo Bolzan tem talento e presença suficientes para seu personagem
esbravejante mendigo/ladrão/assassino; Josi Lopes encanta tanto como atriz
quanto como cantora. Cris Larin, Edson Rocha e Kauê Persona completam, também
com muito brilho, o elenco deste importante e oportuno espetáculo.
Oportuno porque
não deixa de haver inércia e passividade de nossa parte diante dos descalabros
desse funesto governo brasileiro. Ao final do espetáculo, a atriz Camila Pitanga leu manifesto repudiando a censura e as ações do tal governo.
POR
QUE NÃO VIVEMOS está em cartaz no Teatro Cacilda Becker em dois períodos:
-
De 13/02/2020 a 01/03/2020: Quinta a sábado (20h), domingo (19h)
-
De 20/03 a 19/04: Sexta e sábado (20h), domingo (19h)
O
espetáculo tem duração de 150 minutos com 15 minutos de intervalo. FUNDAMENTAL
para quem ama teatro e a obra de Tchekhov.
16/02/2020
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