terça-feira, 30 de março de 2021

BERTA E SEVERINO

 

 

No final de 2019 fui contratado pela associação Amigos da Arte para realizar pesquisa sobre os 40 anos do Teatro Sérgio Cardoso. 

O teatro foi inaugurado no dia 13 de outubro de 1980 após um longo período de obras no local onde anteriormente ficava o Teatro Bela Vista (inaugurado em 1956) que por sua vez ocupava o edifício reformado do Cine Theatro Esperia (inaugurado em 1914).

Na primeira parte do trabalho me concentrei nos antecedentes do Teatro, ou seja, o Bela Vista e o Esperia.

A seguir foi a fase de consultar meus arquivos e os da associação para criar um banco de dados com a ficha técnica básica de cerca de 700 eventos que passaram pelos palcos das duas salas do complexo.

A terceira fase consistiu em tentar recolher dados curiosos sobre o espaço nos meus arquivos e naqueles do Centro Cultural São Paulo e dos jornais O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo. Tentativa bastante frustrante que resultou apenas com alguma informação do CCSP e com aquelas recolhidas nos recortes do meu acervo.

No dia 10 de março de 2020 junto com a diretoria da Amigos da Arte dei por encerrada essa parte do trabalho e agora a ideia era partir para uma pesquisa externa entrevistando pessoal do entorno e artistas que, de alguma maneira, passaram pelo teatro.

Prioridade um: Berta Zemel, única remanescente de Hamlet (peça que inaugurou o Teatro Bela Vista em 1956) e também intérprete de Anjo Duro, peça que marcou sua volta ao teatro após ausência de 30 anos e que foi apresentada na Sala Paschoal Carlos Magno em 2000.

Prioridade dois: O pipoqueiro Severino, verdadeira testemunha ocular da história, que viu passar por sua carrocinha os espectadores dos 40 anos do teatro, além de conversar e “bisbilhotar” com funcionários do teatro e com os artistas que ali estavam se apresentando. É unânime a opinião que Severino sabia mais sobre o teatro e seus bastidores do que qualquer teórico de teatro com seus livros e enciclopédias.

Três dias depois a pandemia chegou galopante, trancafiando cada um de nós em suas celas particulares. Cheguei a fazer contatos virtuais com Ligia Cortez, Samir Yazbek, Johana Albuquerque e Maria Thereza Vargas que não puderam ir adiante por força das circunstâncias, mas o acesso a Berta e a Severino eram mais difíceis.

Já com idade avançada e debilitada, Berta nos deixou no final de fevereiro e agora foi a vez da covid levar o Severino.

Mesmo que um dia voltemos a fazer a pesquisa sobre o Teatro Sérgio Cardoso ela nunca mais será completa: os espaços reservados a Berta e a Severino estarão para sempre vazios 

VIVA BERTA ZEMEL

VIVA O SEVERINO PIPOQUEIRO

VIVA O TEATRO BRASILEIRO

30/03/2021

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