A fazenda do casal
Samuel e Jude Covey passa por crise na
produção de alimentos; o casal também passa por crise pessoal devido à morte
recente de seu filho. O inspetor oficial do Estado William Bloor visita a
fazenda, instalando-se na propriedade do casal, incumbido de exterminar as
razões da crise de produção alimentícia que segundo os dados oficiais são as
raposas que circulam no entorno. A questão é que NÃO HÁ raposas no entorno, mas
mesmo assim a caça irracional continua e muda a vida de todos os envolvidos,
fomentando o medo, o ódio, a traição e as ideias fundamentalistas, ferramentas
muito úteis para a implantação de um regime fascista.
Essa é a trama básica
da peça Foxfinder da jovem dramaturga inglesa Dawn King (1978-). A
tradutora Carolina Fabri e a produção da peça optaram por manter o título
original que significa algo como o “rastreador de raposas” seguido das palavras
“A Caça”. Sem conhecimento da autoria e descartando os nomes das personagens,
um espectador poderia facilmente pensar que se trata de texto de autor
brasileiro metaforizando a situação atual do Brasil onde as raposas poderiam
ser a esquerda, o comunismo, a ciência, a cultura e tudo que valorize a
dignidade dos seres humanos provocando o temor e a insegurança da direita
radical.
O texto é tão potente
na sua denúncia da criação de um bode expiatório (neste momento me vem à mente
outro texto poderoso sobre esse tema: Andorra de Max Frisch, que cairia
muito bem se remontada na atual conjuntura) que o encenador Wallyson Mota não
teve necessidade de explicitar nada sobre nossa realidade.
Onde Não Houver Um
Inimigo, Urge Criar Um. Lembrei-me desse título de uma peça esquecida do dramaturgo
carioca João Bethencourt que traduz bastante bem a ideia da peça de Dawn King.
A encenação de
Wallyson Mota valoriza o texto e a interpretação dos atores que se movimentam
em um tablado (cenário de Geandre Tomazoni e Gustavo Godoy) iluminado por
Matheus Brant. Os figurinos, que remetem ao ambiente rural da peça, levam a
assinatura de Marichilene Artsevskis.
O bom elenco é
formado por Ernani Sanchez que interpreta o marido Samuel; Eduardo Mossri que
empresta seu talento, sua energia e seu físico para o histérico inspetor; Carol
Vidotti, a boa vizinha que por pressões recebidas acaba traindo o casal e
Carolina Fabri, em mais um significativo momento de sua bela carreira, como
Jude Covey.
Foxfinder – A Caça é mais um grito de alerta para os perigos a que o povo brasileiro está sujeito. Só por isso já seria muito necessária, mas, além disso, trata-se de ótima guloseima teatral, bem encenada e bem interpretada.
FOXFINDER – A CAÇA está em cartaz na Sala Paschoal Carlos Magno do Teatro Sérgio Cardoso até 14 de junho às segundas e terças às 19h. Ingressos gratuitos.
12/05/2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário