quinta-feira, 12 de maio de 2022

FOXFINDER – A CAÇA

 

Foto de Halei Rembrandt

A fazenda do casal Samuel e Jude Covey   passa por crise na produção de alimentos; o casal também passa por crise pessoal devido à morte recente de seu filho. O inspetor oficial do Estado William Bloor visita a fazenda, instalando-se na propriedade do casal, incumbido de exterminar as razões da crise de produção alimentícia que segundo os dados oficiais são as raposas que circulam no entorno. A questão é que NÃO HÁ raposas no entorno, mas mesmo assim a caça irracional continua e muda a vida de todos os envolvidos, fomentando o medo, o ódio, a traição e as ideias fundamentalistas, ferramentas muito úteis para a implantação de um regime fascista.

Essa é a trama básica da peça Foxfinder da jovem dramaturga inglesa Dawn King (1978-). A tradutora Carolina Fabri e a produção da peça optaram por manter o título original que significa algo como o “rastreador de raposas” seguido das palavras “A Caça”. Sem conhecimento da autoria e descartando os nomes das personagens, um espectador poderia facilmente pensar que se trata de texto de autor brasileiro metaforizando a situação atual do Brasil onde as raposas poderiam ser a esquerda, o comunismo, a ciência, a cultura e tudo que valorize a dignidade dos seres humanos provocando o temor e a insegurança da direita radical.

O texto é tão potente na sua denúncia da criação de um bode expiatório (neste momento me vem à mente outro texto poderoso sobre esse tema: Andorra de Max Frisch, que cairia muito bem se remontada na atual conjuntura) que o encenador Wallyson Mota não teve necessidade de explicitar nada sobre nossa realidade.

Onde Não Houver Um Inimigo, Urge Criar Um. Lembrei-me desse título de uma peça esquecida do dramaturgo carioca João Bethencourt que traduz bastante bem a ideia da peça de Dawn King.

A encenação de Wallyson Mota valoriza o texto e a interpretação dos atores que se movimentam em um tablado (cenário de Geandre Tomazoni e Gustavo Godoy) iluminado por Matheus Brant. Os figurinos, que remetem ao ambiente rural da peça, levam a assinatura de Marichilene Artsevskis.

O bom elenco é formado por Ernani Sanchez que interpreta o marido Samuel; Eduardo Mossri que empresta seu talento, sua energia e seu físico para o histérico inspetor; Carol Vidotti, a boa vizinha que por pressões recebidas acaba traindo o casal e Carolina Fabri, em mais um significativo momento de sua bela carreira, como Jude Covey.

Foxfinder – A Caça é mais um grito de alerta para os perigos a que o povo brasileiro está sujeito. Só por isso já seria muito necessária, mas, além disso, trata-se de ótima guloseima teatral, bem encenada e bem interpretada. 

FOXFINDER – A CAÇA está em cartaz na Sala Paschoal Carlos Magno do Teatro Sérgio Cardoso até 14 de junho às segundas e terças às 19h. Ingressos gratuitos. 

12/05/2022

 

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