terça-feira, 10 de maio de 2022

WOYZECK – UMA DESTERRITORIALIZAÇÂO EM CURSO

 

O REDIMUNHO ILUMINA A OCUPAÇÃO NOVE DE JULHO

1.   UM POUCO DE HISTÓRIA.

Tão fragmentada e inacabada, mesmo assim Woyzeck é a obra mais visitada do dramaturgo alemão Georg Büchner (1813-1837) morto de tifo prematuramente com apenas 23 anos de idade.

Já foi ópera de Alban Berg em 1925, filme de Werner Herzog em 1979 e peça musical de Bob Wilson e Tom Waits em 2002, para citar apenas as leituras internacionais mais famosas da obra.

No Brasil acumulou dois retumbantes fracassos no Rio de Janeiro. O primeiro em 1948 com o título de Lua de Sangue foi dirigido e interpretado por Ziembinski tendo Maria Della Costa no papel de Maria; o segundo em 1971 foi uma grande produção fracassada da cantora Maysa que se arriscou na interpretação de Maria com Antonio Pedro no papel título e tinha a direção de Marilda Pedroso.

Em São Paulo houve uma bem sucedida montagem em 2003 com direção de Cibele Forjaz, tendo Mateus Nachtergaele e Marcela Cartaxo nos papeis principais.

Às vésperas do fechamento dos teatros por conta da pandemia provocada pela covid 19 foi estreada e logo depois adiada uma produção do Núcleo de Pesquisa do Ágora Teatro dirigida por Celso Frateschi.

Agora chegou a vez do Grupo Redimunho de Investigação Teatral visitar esse intrigante e muito contemporâneo texto de Büchner, apesar de seus quase dois séculos de existência.

2.   O WOYZECK DO REDIMUNHO.

Em primeiro lugar cabe destacar a “ocupação” que o espetáculo faz das áreas externas da Ocupação 9 de Julho do MSTC (Movimento Sem-Teto do Centro).  Parece que cada canto do belo espaço foi preparado para receber as várias cenas que compõem o início do espetáculo todo ele iluminado criativamente por Lui Seixas. O público acompanha essas cenas caminhando até chegar ao espaço cênico também ao ar livre onde acontece a trama principal da peça de Büchner.

As cenas acontecem em três tablados (onde estão os objetos de cena e estruturas verticais que remetem a forcas, símbolos de morte e castigo) e nos entornos dos mesmos. Aqui também se faz notar a bela iluminação de Lui Seixas e o aproveitamento de cada canto do espaço.

O texto original é recheado de “bifes” (jargão usado no meio teatral para nominar longos monólogos) e Rudifran Pompeu o recheia com outros tantos, além dos ótimos números musicais (direção musical de Luís Aranha), fatos que tornam o espetáculo, a meu ver, longo demais.

Essas inclusões reforçam os valores em que o Redimunho acredita e milita como a luta contra preconceitos de classe, gênero e raça, denúncia de machismo e feminicídio procurando trazer o texto para nossa triste realidade. Tais inclusões comentam o original do dramaturgo alemão que por si já carrega um forte poder de denúncia. De qualquer maneira, sempre é bom lembrar que: QUEM NÃO LUTA TÁ MORTO!

Danilo Amaral e Carolina Moreira encarregam-se das personagens Woyzeck e Marie. O numeroso elenco defende com garra e muita energia todo o espetáculo, tanto nos textos falados como nos números musicais.


Amanda Preisig - Foto de Jardiel Carvalho


Por dar maior visibilidade à Ocupação Nove de Julho e pelo digno e importante espetáculo apresentado, vale a pena ir até a Rua Álvaro de Carvalho, 427 (quase esquina da Rua Martins Fontes) às segundas e domingos às 19h. Bilheteria abre uma hora antes do espetáculo. Ingressos: R$30,00 (inteira), R$15,00 (meia).

Todas as fotos de autoria de Arnaldo D'Ávila, com exceção daquela creditada a Jardiel Carvalho. 

10/05/2022

 

 

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