segunda-feira, 30 de maio de 2022

A MORTE E A DONZELA

 

 

Quem sofreu o peso das botas de uma ditadura, mesmo que não tenha sido preso ou torturado, compreenderá o porquê dos traumas e da revolta da personagem Paulina na peça A Morte e a Donzela.

Escrita em 1991 nos estertores do terrível governo Pinochet no Chile a peça mostra um casal que sofreu os desmandos do regime e que é visitado por um senhor que é reconhecido pela voz como o médico que comandou as torturas impostas à mulher Paulina. O marido Gerardo faz parte de um Comissão da Verdade que irá investigar os   envolvidos com os crimes do antigo regime e procura ter uma atitude mais ponderada comparada à violenta reação da esposa.

O autor Ariel Dorfman nasceu em 1942 na Argentina, passou a infância nos Estados Unidos e depois viveu no Chile até a derrubada do governo Allende; como exilado passou algum tempo fora do Chile até o retorno em 1991 quando escreve de forma contundente e direta sobre as consequências dos horrores da ditadura chilena na peça A Morte e a Donzela.

Há exatos 30 anos a peça foi montada no Brasil por José Wilker, tendo Xuxa Lopes no papel de Paulina, Tony Ramos como o marido Gerardo e Otávio Augusto como o médico Roberto Miranda e não havia ocasião mais propícia para que ela voltasse à cena, haja vista o momento delicado e perigoso pelo qual passamos com o atual presidente muito propenso a reviver os tempos ditatoriais no país.

A iniciativa partiu dos jovens integrantes da Laia do Teatro, egressos do Teatro Escola Célia Helena e a direção coube a Laerte Mello.

A produção modesta, mas muito bem realizada, conta com cenários e figurinos do diretor e tem como principal trunfo a contundência do texto, defendida bravamente pelos três jovens atores.

André Barreiros interpreta Roberto Miranda, o suposto torturador de Paulina, inicialmente jovial e simpático nas conversas com Gerardo e tenso e defensivo quando confrontado com as reações da mulher. O inicialmente conciliador Gerardo é representado com dignidade por Victor Barreto. Toda a tensão da trama é conduzida pela personagem Paulina. Ao ver em cena, aquela atriz, tipo mignon, com voz delicada achei que ela não iria dar conta do recado. Ledo engano! Aline Pimentel domina a cena com muita energia e talento dando total verossimilhança às reações violentas de uma mulher que foi ultrajada por um regime odioso e repressor, representado ali por Roberto Miranda.

O final aberto proposto pelo diretor Laerte Mello é um grande achado da montagem.

Todos, principalmente os jovens, deveriam assistir a este importante espetáculo, uma verdadeira lição sobre os perigos de uma ditadura e suas terríveis consequências. 

Em cartaz no Espaço Parlapatões até 26 de junho aos sábados às 16h e aos domingos às 19h. 

30/05/2022

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