quarta-feira, 18 de maio de 2022

O FAZEDOR DE TEATRO

 

Foto de João Caldas

THOMAS BERNHARD NOS PALCOS PAULISTANOS

Apesar de ter escrito 28 peças de teatro o escritor e dramaturgo austríaco Thomas Bernhard (1931-1989), até agora, ao que eu saiba, teve apenas a peça O Jantar nos Wittgenstein (Ritter, Dene, Voss – no original) apresentada por aqui em duas ocasiões: a primeira era uma produção gaúcha dirigida por Luciano Alabarse em 2002 com o título Almoço na Casa do Sr. Ludwig e a segunda dirigida por Eric Lenate em 2015 rebatizada de Ludwig e Suas Irmãs.

Por outro lado, assistimos a várias adaptações de seus romances: Árvores Abatidas (2013) dirigida por Marcos Damaceno com memorável solo de Rosana Stavis; Extinção (2018), solo de Denise Stoklos e o recente O Náufrago (2022) dirigido por William Pereira com Luciano Chirolli. Sem esquecer da monumental versão polonesa de Árvores Abatidas dirigida por Krystian Lupa apresentada na MITsp de 2018. 

O FAZEDOR DE TEATRO

Para comemorar os 30 anos de sua Cia. Razões Inversas e, segundo o release, homenagear o fazer teatral, o incansável Marcio Aurelio encena no SESC Pompeia O Fazedor de Teatro, publicada em 1986, mesmo ano da publicação de O Jantar nos Wittegenstein, três anos antes da morte do autor.

Como o título indica trata-se de uma peça que trata de teatro. É na verdade um longo monólogo do personagem Bruscon, um ator que se proclama um dos melhores, ou até o melhor de todos os tempos, que também acumula as funções de dramaturgo, diretor, preparador do elenco, além daquelas burocráticas.

Exigente, tirânico, rabugento, verborrágico e muitos outros adjetivos poderiam ser atribuídos a esse senhor que fala sem parar durante a hora e quarenta que dura a peça, só sendo interrompido pelos sins de obediência dos filhos Sara e Ferruccio, da mulher Ágata e do hospedeiro. Marcio Aurelio eliminou as personagens da mulher e da filha do hospedeiro que são apenas citadas na montagem.

Sentindo-se senhor de todos esses méritos Bruscon se sente humilhado ao ter que apresentar sua grande obra em um galpão de vilarejo do interior com menos de 300 habitantes; além disso ele detesta o trabalho de sua família que atua com ele.

Marcio Aurelio escolheu um galpão nos fundos do SESC Pompeia para abrigar sua montagem. O cenário de Marcelo Andrade e do diretor procura mostrar a precariedade do local em Utzbach, onde se passa a ação da peça. Aline Santini ilumina a cena discretamente com pendentes sobre os intérpretes e aproveita as janelas do galpão nos belos efeitos de tempestade ao final da peça.

Pelas características próprias do texto, o ator que interpreta Bruscon carrega o espetáculo nas costas e é o grande responsável pelo sucesso ou pelo fracasso do empreendimento e aqui, para o júbilo de todos, temos Paulo Marcello no papel. É incrível a entrega desse grande ator a um papel desafiador e ingrato. Ele consegue manter o espectador atento durante toda a apresentação e o faz de maneira que dá humanidade à personagem e até provoca uma certa simpatia no espectador, apesar da arrogância e da ranhetice da mesma. Mais uma interpretação que deve ser lembrada entre as melhores do ano.

O restante do elenco acompanha com os já citados sins os desmandos de Bruscon, mas cabe destacar a participação de Zedú Neves como o hospedeiro.

Foto de João Caldas

O Fazedor de Teatro é prato cheio e suculento para quem faz ou ama o teatro.

Cartaz do SESC Pompeia até 10 de junho, de terça a sexta às 20h. 

18/05/2022

 

 

 

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