Em outubro de 2021
assisti à versão virtual desta peça e acho interessante reproduzir trechos da
matéria que escrevi a respeito:
“................
O cenário, uma praça e bancos de
jardim, é o mesmo de ‘Dinossauros’ (peça do mesmo autor assistida em 2006), mas as personagens e a situação são
bem diferentes. Duas mulheres estão ali sentadas. Enquanto a de cinza, pragmática
e calculista, faz pesquisa e até se entusiasma com os suicidas que se atiram
das janelas dos prédios ao redor, a outra (de negro) se surpreende com a
conduta fria da primeira e se choca com a queda dos anjos.
Com diálogos ágeis e bem estruturados,
Serrano faz uma sensível radiografia da solidão e do isolamento a que o ser
humano está submetido em uma grande cidade e traz à tona a questão do suicídio,
ato cada vez mais presente em nossa sociedade.
Reginaldo Nascimento dirige a cena
concentrando toda a sua atenção no trabalho das ótimas atrizes que interpretam
com muita verdade as duas mulheres: Amália Pereira (de cinza) e Vera Monteiro
(de negro).
Infelizmente a encenação virtual deixa
muito a desejar no que se refere à parte visual: o cenário, um tipo de telão
que retrata a praça, é feio e tem cores muito carregadas, além disso, fica
muito claro que cada uma das atrizes está em locais diferentes, haja vista que não
há continuidade, por exemplo, na cena em que uma oferece flores à outra.
Sem levar em conta essas observações
de um espectador ranheta, ‘Chuva de Anjos’ é espetáculo dotado de grande
humanidade que merece ser visto, servindo de reflexão e de alento nesses tempos
sombrios que estamos vivendo.
Tenho certeza que a peça ganhará muito
e perderá certo tom artificial presente na versão virtual no momento em que
puder ser apresentada ao vivo. E esse momento vai chegar!
Parabéns Kaus!”
E esse momento chegou para provar mais uma vez que teatro de verdade só acontece ao vivo quando
atores e espectadores respiram o mesmo ar.
O cenário/telão da
versão on line que procurava ilustrar a praça onde se passa a ação foi
trocado por um fundo vazio neutro com a presença de um pequeno arbusto colocado
atrás do banco onde as personagens se sentam. E a magia do teatro se faz
presente: aquilo que era explícito ficou implícito e a visualização da praça
ficou muito mais potente na imaginação do espectador. Emocionante!
Amália Pereira está
ótima como a mulher pragmática que aos poucos, nas conversas com a senhora movida
pela emoção, vai percebendo que nem tudo é tão prático assim. Vera Monteiro tem
um grande momento com a interpretação da tal senhora, sendo responsável por
alguns sorrisos que surgem nos semblantes dos espectadores, apesar do tema
sério tratado na peça.
A notar também, na
versão presencial, os significativos figurinos desenhados por Telumi Hellen.
Reginaldo Nascimento
realiza trabalho de direção discreto (como convém ao texto) e muito digno.
Infelizmente assisti ao espetáculo apresentado na Giostri Livraria Teatro no último dia da temporada, não podendo recomendá-lo vivamente para já, mas outras temporadas hão de surgir!
11/06/2022
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