Oduvaldo Vianna
Filho, o nosso Vianinha (1936-1974), escreveu Papa Highirte em 1968, um
dos anos mais terríveis da ditadura militar brasileira que culminou com a
promulgação do famigerado AI5, ato que escancarou os porões do regime para perseguir,
torturar, desaparecer e matar todos aqueles que clamavam por liberdade e se
insurgiam contra os seus desmandos.
A peça, através de pessoas
e locais fictícios, retrata muito bem os acontecimentos da época e a participação
norte americana na instalação e manutenção do golpe civil militar que deu origem à longa ditadura brasileira.
Premiada com o
primeiro prêmio do concurso do Serviço Nacional de Teatro e proibida
no mesmo ano em que foi escrita, a peça só foi liberada em 1979, quando foi encenada
no Rio de Janeiro pelo Teatro dos 4, com direção de Nelson Xavier e tendo Sergio Britto no papel
título.
Considerada ultrapassada durante os breves tempos em que se pôde respirar ares de liberdade no país, a peça, infelizmente, volta a ser atualíssima e muito oportuna em função da ascensão de uma ultra direita liderada por esse ser abjeto que está no poder. Torçamos para que ela volte a ser ultrapassada a partir de 2023.
Papa Highirte é um
ditador populista que foi deposto de seu país Alhambra e vive exilado em
Montalva. Ali, enquanto relembra os fatos que aconteceram antes e durante o
golpe que o depôs, arquiteta planos para voltar ao poder em sua terra natal, percebendo
tarde demais que sempre foi manipulado pelos militares a serviço de uma
potência estrangeira. Em Montalva, ele também está sob a mira do revolucionário
Mariz, que pretende matá-lo.
A encenação direta e
potente de Eduardo Tolentino está sendo encenada no grande salão existente no
simpático Galpão do Grupo TAPA. Com apenas recursos de iluminação (Wagner
Pinto) a trama navega entre o presente da personagem em Montalva e o passado em
Alhambra, sem a utilização de cenários nem adereços. E a magia do teatro bem
realizado põe a imaginação do espectador para funcionar, permitindo que ele visualize
tudo o que está implícito.
O elenco, muitíssimo
bem preparado pelo encenador, segue o padrão TAPA de qualidade. Elenco bastante
homogêneo nos desempenhos, mas não há como não destacar as interpretações de Eduardo
Semerjian (o militar Perez y Mejia), Bruno Barchesi (o revolucionário Mariz),
Camila Czerkes (uma linda e voluptuosa Graziela) e Caetano O’Maihlan(Manito e
Hermano Arrabal).
Que Zécarlos Machado é um grande ator, não há quem o negue, mas desta vez ele se supera em papel extremamente complexo, onde a personagem de Papa, apesar de seu temperamento grotesco e tirânico, revela humanidade e até provoca simpatia e pena no espectador. Mais uma das grandes interpretações masculinas do ano.
PAPA HIGHIRTE está em cartaz no Galpão do Grupo TAPA situado na Rua Lopes Chaves, 86 na Barra Funda. Temporada até 17 de julho ás sextas e sábados às 20h e aos domingos às 18h.
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