É surpreendente
observar o currículo de Luccas Papp, um jovem com menos de 30 anos, e constatar
a quantidade de títulos que ele acumula nas mais diversas funções teatrais seja
como autor, ator, diretor, produtor, ou ainda, como professor de teatro.
Desconheço a formação acadêmica de Papp, mas tenho certeza que a prática muito
lhe ensinou, haja vista a consistência da estrutura dramatúrgica como também a
fluidez e a agilidade dos diálogos daqueles textos de sua autoria a que pude assistir; em
alguns casos há certa imaturidade e falta de profundidade no tratamento dos
temas, algo perfeitamente compreensível para autor tão jovem. Não há dúvida que
Luccas Papp é um dos mais promissores dramaturgos brasileiros, com importante
carreira pela frente. Nosso teatro está necessitando disso.
A última incursão de
Papp como ator e autor (segundo ele, a peça foi escrita em quatro horas!) é O
Anjo de Cristal, ora em cartaz no Teatro União Cultural.
A trama desta peça
envolve um homem muito tímido que compra uma hora com prostituta de luxo vinda
do interior que “faz a vida” para pagar a faculdade na FAAP. O texto faz
referências simpáticas a coisas e lugares de São Paulo e, como já citado acima,
tem diálogos ágeis e um grande mérito ao louvar o empoderamento e a liberdade
de escolha da mulher.
Como em outras peças
do autor a que assisti, há uma reviravolta no final, que não vou relatar qual é
para não ser um desmancha prazer para as/os futuras/os espectadoras/es (melhor
assim do que “es futures espectadores”, não é?).
Luccas Papp se sai
bem como o visitador, exagerando às vezes nas caras e bocas (principalmente da
projeção do queixo para a frente) para demonstrar a timidez e as surpresas com
as investidas da jovem.
Carolina Amaral é uma belíssima mulher e
demonstra talento e coragem para enfrentar a personagem de Isadora, a
prostituta, cabendo um senão à pouca projeção de sua voz. Irritante e
artificial é o mascar de chiclete nas cenas iniciais, mostrando antipatia e
pedantismo que a personagem não tem.
Se no cinema já é
difícil, no teatro é muito mais complexo resolver as cenas de sexo; na maioria
das vezes a situação é resolvida com um indesejado black out entre o
antes e o depois. Neste caso, o encenador Kiko Rieser optou por realizar a cena
na penumbra, havendo certas inverossimilhanças que aqueles que irão assistir ao
espetáculo irão notar, mas o importante é que a cena resulta bonita. Rieser
conduz o espetáculo sem arroubos criativos (algo extremamente correto para esse
tipo de texto) concentrando sua atenção na interpretação e na movimentação
cênica do elenco,
A ação da peça se
passa no flat onde a jovem atende os seus clientes e o cenário que procura
mostrar esse ambiente leva, para minha surpresa, a assinatura de Kleber
Montanheiro, cenógrafo colorido e um tanto “barroco”. No meu modo de ver, fez
falta ali uma silhueta dos prédios da cidade através da janela, uma reprodução
de um quadro da Beatriz Milhazes ou do Romero Britto na parede e uma cortina de
tecido um pouco mais nobre.
A iluminação de Lui
Seixas procura refletir a intenção de cada cena e a trilha sonora de Mau
Machado a partir de clássicos de jazz está mais para Nova York do que para São
Paulo, mas funciona: afinal ela é uma garota de programa culta e refinada.
Muito importante: um bem-vindo programa impresso simples, mas contendo sinopse, ficha técnica, impressões dos envolvidos e fotos é distribuído aos espectadores e a um pesquisador como eu, que necessita dessas informações para desenvolver seu trabalho em prol da memória de nosso teatro.
O ANJO DE CRISTAL
está em cartaz no Teatro União Cultural apenas às quintas feiras às 20h até
28/07.
PRESTIGIE O AUTOR BRASILEIRO!
12/06/2022
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