É curioso notar que
Sófocles (497 a.C. – 406 a.C.) iniciou o sua TRILOGIA TEBANA com ANTÍGONA, a
última parte da trama. Mais de dois mil e quinhentos anos depois, parece que
estou vendo o velho dramaturgo terminar a sua ANTÍGONA em 441 a.C. e pensando “Acho
que vai valer a pena eu contar o que aconteceu antes disso.” e a
partir daí surgiram ÉDIPO REI em 430 a.C. e ÉDIPO EM COLONO em 406 a.C., pouco
antes de sua morte aos 96 anos.
Marcelo Lazzaratto
resolveu contar a trilogia tebana misturando os tempos e colocando
criativamente Édipo velho como testemunha da tragédia de Édipo jovem quando
este descobre que matou o próprio pai e teve relações incestuosas com sua mãe
Jocasta. Se por um lado, a narrativa se torna um pouco difícil de acompanhar
(principalmente no primeiro ato), ela faz com que o espectador se torne quase
um coautor ao colocar em suas mãos a costura da trama.
Trata-se de
espetáculo de fôlego e, em minha opinião, o mais bem sucedido da longa carreira
de Marcelo Lazzaratto e de sua Cia. Elevador de Teatro Panorâmico.
A tragédia de Édipo e
sua família na versão da Cia. Elevador se desenvolve em cenário de Julio
Dojscar que reforça a atemporalidade, ou melhor, a atualidade da mesma, uma vez
que é formado por contêineres modernos dispostos no cais de um porto. Essa
triste atualidade torna-se mais patente com a presença de uma funcionária do
porto (personagem criada pelo encenador) e com o figurino e a postura do Coro,
testemunha dos acontecimentos, representado por Eduardo Okamoto.
Como de hábito, a
iluminação assinada por Lazzaratto é precisa e elaboradíssima. A poderosa trilha
sonora de Dan Maia remete aos sons ouvidos em outras tragédias gregas e acentua
a pungência da história.
O elenco movimenta-se
em cena com marcações e gestual bastante rígidos. Todos têm desempenhos dignos
e excelentes, mas é preciso destacar a versatilidade de Eduardo Okamoto e
Marina Vieira em diversos papeis e a presença marcante de Marcelo Lazzaratto em
antológica interpretação como Édipo velho.
Lazzaratto concentra
assim as funções de adaptação das três tragédias (dramaturgia cênica), direção,
iluminação e interpretação da personagem mais presente na encenação. E cumpre
todas essas funções brilhantemente.
Trata-se de ótimo
momento não só de Lazzaratto, como também da Cia. Elevador que neste ano
completa 22 anos de presença em nossos palcos e que, além desse
espetáculo, está em cartaz com o também muito bem sucedido infanto juvenil Caro
Kafka.
Parabéns e VIVA O
TEATRO!
O bem-vindo programa
impresso, além de muito bonito, contém informações preciosas sobre o espetáculo.
TEBAS está em cartaz
no SESC Bom Retiro às quintas, sextas e sábados às 20h até 25/06.
18/06/2022
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