Tem vezes que meia
peça vale por uma peça inteira e este é o caso dessa notável primeira parte do
longo texto do dramaturgo norte americano de origem latina Matthew López que apesar
de relativamente jovem (45 anos) tem profícua carreira como dramaturgo e roteirista,
tendo inclusive escrito o texto de um musical ora em cartaz na Broadway baseado
na deliciosa comédia Quanto Mais Quente Melhor (1959) dirigida por Billy
Wilder.
A Herança foca sua ação no
mundo gay nova iorquino (que poderia ser o brasileiro) pós aids contando a
relação do tímido Eric (Bruno Fagundes) com o arrivista escritor Toby (Rafael
Primot) e suas amizades incluindo um grupo de amigos (o elenco coadjuvante), o
vizinho mais velho Walter (Marco Antônio Pâmio) e o também arrivista Adam (André
Torquato). O personagem Henry (Reynaldo Gianecchini) aparece quase no fim desta
primeira parte, após a morte do seu companheiro.
A ação linear é
contada de maneira original onde interpretação e narração se confundem criando
ambiente propício para o distanciamento e consequente reflexão do espectador.
A peça tem momentos
marcantes como o poético e longo solo de Pâmio, merecedor de palmas em cena
aberta, seguido da tocante cena de conjunto onde o elenco cita o nome de
pessoas que foram contaminadas pela aids que fecha o primeiro ato da Parte 1. Corajosa
também é a cena em que Adam (Torquato) descreve para um incrédulo e excitado
Toby (Primot) o que lhe aconteceu em uma sauna gay em Barcelona.
Todo o elenco está
afinadíssimo com destaque para o quarteto protagonista Pãmio (insuperável),
Primot (excelente como o irrequieto e visceral Toby e dando um show em cena
mesmo portando muletas, pois quebrou o pé no palco, um dia antes da estreia),
Torquato (uma bem vinda surpresa a cada papel que interpreta) e, propositalmente
por último, Bruno que tem a chance de se mostrar um grande ator como o inseguro
e tímido Eric, além do grande mérito de ter trazido esse importante texto para
nossos palcos.
A participação
especial da querida Miriam Mehler deve acontecer na Parte 2, algo ansiosamente
esperado por todos que admiram essa grande atriz.
Esta Parte 1 tem um
intervalo de 15 minutos e depois uma pausa de 5 minutos, sendo que o total do
evento ultrapassa as três horas. O mesmo deve acontecer com a Parte 2, mas
garanto que ninguém olha para o relógio durante todo esse tempo, nem boceja,
porque a peça é muito boa e envolvente.
Direção primorosa de
Zé Henrique de Paula.
Voltarei a esse importante espetáculo após assistir à Parte 2.
A HERANÇA está em
cartaz no Teatro Vivo até 30 de abril, com a seguinte distribuição das partes:
De 09/03 a 23/03 –
Parte 1 de quinta a sábado às 20h e aos domingos às 18h.
A partir de 24/03 –
Parte 1 às quintas (20h) e sábados (20h) e Parte 2 às sextas (20h) e domingos
(18h).
Haverá duas sessões duplas nos dias 08/04 e 22/04 com a Parte 1 às 16h e a Parte 2 às 20h.
10/03/2023
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