O texto de
Bernard-Marie Koltès é frio e racional e a montagem de Guilherme Leme Garcia
acompanha as intenções do dramaturgo francês, precocemente morto aos 41 anos em
1989, época em que a aids ceifava vidas aos milhares. Trata-se de um dos
primeiros textos escritos pelo autor e aí já se revela o estilo que se
consolidaria nas obras da maturidade como Roberto Zucco e Na Solidão
dos Campos de Algodão.
A coerência presente nas intenções do autor e
do diretor também se faz notar no belo e equilibrado cenário de Mira Andrade
composto apenas de quatro banquetas onde o elenco permanece sentado quando não
está em ação, na não menos que arrebatadora iluminação de Aline Santini que
surpreende o espectador a cada novo trabalho realizado, nos solenes figurinos
de João Pimenta contrastando o escuro (Claudio, Gertrudes e Hamlet) com o claro
(Ofélia) e nas interpretações contidas e estilizadas de Tiago Martelli
(Hamlet), de Larissa Noel (Ofélia) com potente voz e excelente expressão
corporal e dos mais que notáveis Leopoldo Pacheco (Claudio) e Lavínia Pannunzio
(poderosa como sempre, interpretando Gertrudes)
A leitura de Koltès
limita a essas quatro personagens e à voz do fantasma uma peça que tem mais de quarenta
figuras em cena, mas o faz de maneira que revela toda a complexidade da trama shakespeariana,
além de acrescentar problemas contemporâneos à narrativa.
A morte conduz a
cena, pois a peça concentra a ação no dia em que morrem Claudio, Gertrudes e
Hamlet, sendo que Ofélia já havia partido anteriormente.
Não havendo mais ninguém para falar, só resta o silêncio!
Em tempo: o belo e
informativo programa contém fotos preciosas em branco e preto do elenco
creditadas a João Pacca, além de uma sem créditos do dramaturgo Koltès.
O DIA DAS MORTES NA HISTÓRIA DE HAMLET está em cartaz no SESC 24 de Maio até 09 de abril com sessões às quintas e sextas às 20h, aos sábados às 17h e 20h e aos domingos às 18h.
29/03/2023
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