O abuso sofrido por
centenas de mulheres pelo médium João de Deus e o descaso da justiça diante das
denúncias são os temas desse importante espetáculo que traz no sub título a
maneira como a justiça denominou as acusações feitas pelas vítimas.
Esses assuntos são tão
prementes e graves que discutir como a ficção e a arte os trata torna-se
secundário e até constrangedor.
Esse grupo de
mulheres guerreiras e corajosas liderado pelo trio Lauanda Varone (idealizadora
e intérprete), Angela Ribeiro (dramaturga) e Erica Montanheiro (diretora) é
responsável por colocar em cena a traumática experiência vivida por Lauanda na
Casa Dom Inácio de Loyola dos 13 aos 28 anos.
Para amenizar a
exposição de tema de tal gravidade houve a opção de ambientar a cena em uma
estufa repleta de belas plantas, não faltando, porém, a presença traiçoeira das
carnívoras, metáfora quiçá, do homem predador.
A plateia dos homens
é separada daquela das mulheres e na maior parte do espetáculo a atriz se
dirige ao lado masculino, como que o responsabilizando pelos atos contra as
mulheres.
A dramaturgia de
Angela Ribeiro é vigorosa tanto na introdução quando a performer comenta sobre
as plantas quanto na parte central do espetáculo que trata dos abusos por ela
sofrido. Um corte nessa longa parte introdutória faria muito bem à montagem.
Erica Montanheiro realiza
um maduro trabalho como encenadora, harmonizando de forma brilhante a
movimentação cênica da atriz e de suas duas auxiliares proposta por Bruna Longo
com a iluminação, como sempre muito criativa e bela, de Aline Santini; a
direção de arte (inclui o cenário?) de Joyce Roma e a cuidadosa parte
audiovisual da peça assinada por Julia Rufino.
Lauanda Varone tem
interpretação visceral e apaixonada, como não poderia deixar de ser, pois
trata-se de verdadeira catarse dos problemas e traumas que ela enfrentou na
realidade. Na visão deste espectador ela deveria iniciar a apresentação em tom
menor e ir num crescendo até o momento de falar dos abusos quando toda sua
energia deveria estar à flor da pele. Iniciando o espetáculo em tom
grandiloquente e de certa maneira jocoso, a atriz não tem muito para onde ir no
momento da explosão dos fatos.
É bonita e muito útil
a participação de Ana Tolezani e Eduarda Maria que atuam tanto na
contrarregragem como emoldurando a cena.
A estreia do
espetáculo no Dia Internacional da Mulher é emblemática e deve servir como um
marco na luta pelos direitos de justiça não só para as mulheres, mas para todo
ser humano.
Era secundário e constrangedor, mas assumi o risco e tratei desse importante trabalho que essas poderosas mulheres colocaram em cena.
ESTUFA está em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade de 3ª a 6ª às 20h e aos sábados às 15h e às 18h. Ingressos gratuitos.
09/03/2023
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