Um espetáculo típico da Lapa carioca com sotaque mineiro.
A
arte tem que me surpreender, ela tem que tirar meus pés do chão! É por isso que
cada vez que eu me dirijo a um teatro vou com a esperança de assistir ao melhor
espetáculo da minha vida. Muitas vezes o que vejo são trabalhos corretos, bem
feitos, mas sem aquela fagulha que me provoque, muitas outras vezes assisto a
encenações ruins, sem brilho que me desenergizam e que fazem eu prometer para
mim mesmo que vou ficar um tempo sem ir ao teatro. Quando, porém, a chama
brilha tenho que agradecer ao universo por amar o teatro e insistir em
frequentá-lo.
E
na última noite a chama brilhou graças ao Grupo
dos Dez de Minas Gerais que está apresentando Madame Satã na Caixa Cultural.
O
espetáculo começa na área externa da Caixa com roda de samba onde as
prostitutas da peça e os moradores de rua do entorno são as principais
atrações
A
seguir o público é direcionado para o espaço cênico onde é recepcionado por uma
bela e sorridente negra de seios fartos e pelas prostitutas do cabaré. Cantando
Flor, Linda Flor (curiosamente a
canção tem o mesmo título daquela cantada em Romeu e Julieta, criação antológica do também mineiro Grupo Galpão) e em provocante ambiente
vermelho a peça já ganha o espectador.
João
Francisco dos Santos (1900-1976), mais tarde conhecido como Madame Satã, tinha tudo para
ser perseguido: negro, pobre, nordestino e homossexual; a peça faz virulenta
denúncia em relação ao preconceito e a intolerância usando a vida dele como
mote e por meio de belas canções compostas especialmente para ela por vários compositores,
muitos deles pertencentes ao grupo.
João
das Neves e Rodrigo Jerônimo fazem a direção da parte interpretativa e Bia
Nogueira dirige musicalmente os ótimos atores/cantores/instrumentistas.
O
recurso dramatúrgico usado para a atuação do protagonista foi dividi-la por
três atores com portes físicos bastante distintos: Rodrigo Ferrari é muito alto,
viril e tem pinta de galã, Denilson Tourinho é pequenino e muito sensual e
Evandro Nunes tem aparência frágil e muito humana. Todos em excelentes
interpretações, mostram as diversas faces dessa mítica figura que foi Madame
Satã.
Tudo
funciona neste contagiante espetáculo: cenário (despojado, mas muito
funcional), os deliciosos figurinos de Cícero Miranda e Débora Neves (também
responsáveis pelo cenário), a iluminação de João das Neves e esse maravilhoso
elenco que nos deixa com gosto de “quero mais” assim que as luzes se apagam e o
público aplaude entusiasticamente.
Toda
essa beleza mereceu apenas oito apresentações em sua temporada relâmpago em São
Paulo. Cinco já se foram, mas ainda restam três: sexta (16), sábado (17) e
domingo (18) sempre às 19h15 na Caixa Cultural na Praça da Sé. Os ingressos são
gratuitos e podem ser retirados no dia da apresentação a partir das 9h. Não
deixe para a última hora, porque tem muita gente voltando para casa com água na boca sem conseguir entrar.
CORRA QUE AINDA DÁ TEMPO!
Em tempo: na noite de quinta feira a sessão
contou com uma atração extra: a presença na plateia de João Silvério Trevisan,
autor do emblemático Devassos no Paraíso.
16/06/2017
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