sexta-feira, 16 de junho de 2017

MADAME SATÃ


Um espetáculo típico da Lapa carioca com sotaque mineiro.

        A arte tem que me surpreender, ela tem que tirar meus pés do chão! É por isso que cada vez que eu me dirijo a um teatro vou com a esperança de assistir ao melhor espetáculo da minha vida. Muitas vezes o que vejo são trabalhos corretos, bem feitos, mas sem aquela fagulha que me provoque, muitas outras vezes assisto a encenações ruins, sem brilho que me desenergizam e que fazem eu prometer para mim mesmo que vou ficar um tempo sem ir ao teatro. Quando, porém, a chama brilha tenho que agradecer ao universo por amar o teatro e insistir em frequentá-lo.
        E na última noite a chama brilhou graças ao Grupo dos Dez de Minas Gerais que está apresentando Madame Satã na Caixa Cultural.
        O espetáculo começa na área externa da Caixa com roda de samba onde as prostitutas da peça e os moradores de rua do entorno são as principais atrações
        A seguir o público é direcionado para o espaço cênico onde é recepcionado por uma bela e sorridente negra de seios fartos e pelas prostitutas do cabaré. Cantando Flor, Linda Flor (curiosamente a canção tem o mesmo título daquela cantada em Romeu e Julieta, criação antológica do também mineiro Grupo Galpão) e em provocante ambiente vermelho a peça já ganha o espectador.



      João Francisco dos Santos (1900-1976), mais tarde conhecido como Madame Satã, tinha tudo para ser perseguido: negro, pobre, nordestino e homossexual; a peça faz virulenta denúncia em relação ao preconceito e a intolerância usando a vida dele como mote e por meio de belas canções compostas especialmente para ela por vários compositores, muitos deles pertencentes ao grupo.
        João das Neves e Rodrigo Jerônimo fazem a direção da parte interpretativa e Bia Nogueira dirige musicalmente os ótimos atores/cantores/instrumentistas.
        O recurso dramatúrgico usado para a atuação do protagonista foi dividi-la por três atores com portes físicos bastante distintos: Rodrigo Ferrari é muito alto, viril e tem pinta de galã, Denilson Tourinho é pequenino e muito sensual e Evandro Nunes tem aparência frágil e muito humana. Todos em excelentes interpretações, mostram as diversas faces dessa mítica figura que foi Madame Satã.


        Tudo funciona neste contagiante espetáculo: cenário (despojado, mas muito funcional), os deliciosos figurinos de Cícero Miranda e Débora Neves (também responsáveis pelo cenário), a iluminação de João das Neves e esse maravilhoso elenco que nos deixa com gosto de “quero mais” assim que as luzes se apagam e o público aplaude entusiasticamente.
        Toda essa beleza mereceu apenas oito apresentações em sua temporada relâmpago em São Paulo. Cinco já se foram, mas ainda restam três: sexta (16), sábado (17) e domingo (18) sempre às 19h15 na Caixa Cultural na Praça da Sé. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados no dia da apresentação a partir das 9h. Não deixe para a última hora, porque tem muita gente voltando para  casa com água na boca sem conseguir entrar. CORRA QUE AINDA DÁ TEMPO!


Em tempo: na noite de quinta feira a sessão contou com uma atração extra: a presença na plateia de João Silvério Trevisan, autor do emblemático Devassos no Paraíso.

16/06/2017
       

        

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