Em
uma noite me referindo ao espetáculo Madame
Satã escrevi “Quando, porém, a chama
brilha tenho que agradecer ao universo por amar o teatro e insistir em
frequentá-lo.”. Ainda não refeito dessa sensação eis que a chama voltou a brilhar
na noite seguinte ao assistir a Mil
Mulheres e Uma Noite, primeira incursão do grupo As Meninas do Conto no teatro adulto.
As Meninas, que são exímias contadoras de histórias, tomaram como ponto de
partida a mais célebre de suas colegas: nada mais, nada menos que Sheerazade! Com a intenção de denunciar o mundo
opressivo vivido por muitas mulheres, uniram-se a Cassiano Sydow Quilici para
criar em processo colaborativo a dramaturgia que contempla não só trechos das
mil e uma noites, mas também relatos contemporâneos sobre violência e abusos
sofridos pelo sexo feminino. O resultado não poderia ser mais coerente.
Diga-se
que o elenco, só de mulheres, teve forte apoio masculino, não só por parte do
dramaturgo, mas da sensível direção de Eric Nowinski. O encenador concebeu
espetáculo itinerante que explora de maneira surpreendente os espaços do belo
edifício que abriga a Oficina Cultural Oswald Andrade, criando cenas de rara
beleza.
As Meninas são excelentes atrizes e cada uma delas brilha em seu momento solo, mas não
há como não destacar aquele de Norma Gabriel que é, sem exagero, arrebatador!
Norma incorpora uma mulher que após vida relativamente boa envolve-se com belo
jovem e por conta de incidente involuntário é torturada pelo companheiro e seus
escravos transformando-se em verdadeira múmia viva. Gestos precisos, voz suave
ou forte dependendo da situação, tornam a cena digna de qualquer antologia de
interpretação. A atriz foi aplaudida em cena aberta!
A
direção musical e preparação vocal das atrizes é responsabilidade da nossa
Midas que transforma em ouro todo trabalho que toca: Fernanda Maia. O elenco
interpreta muito bem as canções coreografando-as (preparação corporal de
Letícia Doreto) de maneira bela e harmoniosa.
Mil Mulheres e Uma Noite é longo na
medida certa. Nas quase duas horas de duração percorremos os espaços, ora
rindo, como na cena em que a cozinheira do palácio conta as razões pelas quais
o sultão Sharyar quer assassinar todas as mulheres do seu sultanato, ora
indignados, como quando somos confrontados com notícias de violência contra a
mulher, e sempre encantados com a interpretação das atrizes.
O
espetáculo nos faz refletir sobre o fato que na maioria das vezes mulheres são
molestadas por homens que só estão por aqui porque foram gerados e paridos por
uma mulher. Assim rasteja a humanidade!
MIL
MULHERES E UMA NOITE está em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade às
sextas às 21h e aos sábados às 20h até 30/06. O ingresso é gratuito e deve ser
retirado uma hora antes da apresentação.
17/06/2017
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