PERDÓN? ou PERDÓN!
Labio de Liebre foi o espetáculo de
abertura do MIRADA 2018. Trata-se de produção da companhia colombiana Teatro Petra que já pode ser considerada
como um dos grandes momentos do Festival.
A
peça inicia em cenário realista que mostra a sala de uma casa aparentemente
situada em zona rural; lá fora neva e a presença de cabeças de vacas, galinhas
e coelhos olhando pela janela para um pacato cidadão que assiste TV dá a
sensação que vamos assistir a um suave espetáculo de teatro infantil.
Aos
poucos ficamos sabendo que esse senhor não é tão pacato e que se trata de preso
político que foi exilado em um país muito frio após ser condenado por promover
torturas em seu país tropical.
A casa passa a ser invadida por uma família
formada pela matriarca, por dois filhos (sendo que eu deles tem lábio leporino)
e pela filha; por animais e por um crescer constante de frondosa vegetação
tropical.
Todos
ali; humanos, fauna e flora; parecem clamar por justiça e pela reparação dos
males provocados por aquele homem e aí o público toma conhecimento que ele foi
um torturador que dizimou muitos humanos (inclusive toda aquela família), um
número ainda maior de animais e por tabela deve ter sido no mínimo cúmplice da destruição
da natureza vegetal, sendo que esta teve a triste função de servir de cemitério
para as pessoas torturadas e assassinadas.
Em
clima de realismo fantástico, tão rico aos colombianos, a peça vai se
desenvolvendo em crescente tensão onde o homem tenta se defender dizendo que
agiu cumprindo ordens e pensando na defesa de sua pátria, discurso esse
presente na boca de todo torturador que grassou pelos países da América Latina
que passaram por ditaduras na segunda metade do século XX.
A
família insiste em saber aonde cada membro foi enterrado e após muita
relutância, o torturador revela os diversos locais situados na floresta. A peça
termina com uma significativa palavra proferida pelo homem: “Perdón”. Uma
exclamação significando arrependimento ou uma interrogação significando pouco
caso podem definir o caráter e os sentimentos desse homem. A decisão fica por
conta do espectador.
Marcela Valencia
A
peça conta com elenco homogêneo com destaque para Marcela Valencia (fundadora do grupo junto com o diretor e autor do texto Fabio Rubiano Orjuela) que interpreta a mãe. O cenário de Henry
Alarcón é iluminado de maneira significativa por Adélio Leiva e Leonardo Murcia
e a trilha sonora de Camilo Sanabria ajuda a compor o clima de quase terror que
vai se instalando ao longo do espetáculo. Um soco no estômago!
O
Teatro Petra ainda vai apresentar no
Festival o espetáculo Quando Explodem as
Paredes, sua última criação.
06/09/2018
Seus comentários trouxeram junto as imagens. A leitura instiga a curiosidade de quem não viu.
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