Palco e plateia/Ator e espectador: As únicas coisas de que o teatro não pode abrir mão - Foto de Letícia Godoy: Cia. Mungunzá no Teatro de Contêiner
Conforme
obtido nos guias de teatro no ano de 2018 estiveram em cartaz nos palcos
paulistanos 550 títulos de autores brasileiros, número que pode ser conferido
no banco de dados que alimento mensalmente desde 1990. O gráfico abaixo mostra
a evolução do número de peças brasileiras apresentadas em São Paulo de 1990 a
2018.
Pode-se
notar no gráfico como a tendência de crescimento aumentou após 2002, ano em que
entrou em vigor a Lei do Fomento (o primeiro edital é de junho de 2002).
Nota-se também que apesar de se manter em nível elevado em relação à média de
anos anteriores, o número de peças em 2018 teve significativa queda de 13% em
relação a 2017 (de 633 para 550), o que pode ter sido ocasionado pelas
incertezas que rondam as políticas para o teatro e para a cultura de maneira
geral.
Segundo
amostras coletadas nos guias de teatro, porcentagens aproximadas indicam que a
cena paulistana está assim dividida:
Dramaturgia
brasileira: 45%
Dramaturgia
estrangeira: 20%
Stand
Up: 15%
Teatro
Infantil: 20%
Considerando
o número preciso de 550 para dramaturgia brasileira e usando as porcentagens
acima, podemos inferir que a cena paulistana teve cerca de 1220 espetáculos em
cartaz no ano de 2018, sem levar em conta os trabalhos realizados nas ruas e na
periferia da cidade que não constam dos guias consultados.
Voltando
à dramaturgia brasileira que é o objeto desta matéria, segue abaixo uma análise
do que ocorreu em 2018.
Os
550 títulos podem ser tanto estreias como reestreias de espetáculos vindos do
ano anterior.
Nelson
Rodrigues continua sendo o autor mais montado, comparecendo em dez
montagens, seguido por Plínio Marcos e Ronaldo Ciambroni cada um deles com sete
espetáculos montados. É curioso notar que das sete montagens de peças de Plínio
Marcos, quatro foram da clássica Navalha
na Carne.
O
único autor que teve quatro títulos montados foi Rodolfo García Vázquez,
sendo que dois deles tiveram Ivam Cabral como coautor.
14
dramaturgos tiveram três montagens de seus trabalhos. São eles: Alamo
Facó, Alexandre Dal Farra, Aziz Bajur, Carol Rainatto, Hugo Possolo, Julia
Spadaccini, Marcelino Freire, Márcio Azevedo, Mário Bortolotto, Paula Giannini,
Pedro Fabrini, Regiana Antonini, Sérgio Roveri e Viviane Dias.
51
dramaturgos compareceram com duas montagens.
37
espetáculos aparecem como criação coletiva (33) ou processo colaborativo (4).
Estas classificações são passíveis de crítica porque nunca aparecem de maneira
explícita na ficha técnica.
345
autores tiveram um espetáculo montado. Muitos nomes desconhecidos
aparecem nesta lista e lamentavelmente é muito difícil que eles voltem a
comparecer no futuro.
É
sempre estimulante ver a presença de Gianfrancesco Guarnieri (Eles Não Usam Black Tie), Jorge Andrade
(A Escada), Raimundo Magalhães Júnior
( A Canção Dentro do Pão), Martins
Pena (O Diletante e O Usurário), e
até Machado de Assis (Memórias Póstumas
de Brás Cubas e O Espelho) e
Guimarães Rosa (O Espelho).
Louve-se
a realização da IV Mostra de Dramaturgia
em Pequenos Formatos do CCSP que
entre outros tantos méritos este ano revelou o autor Jhonny Salaberg (Buraquinhos ou O Vento É Inimigo do Picumã).
A
qualidade da dramaturgia brasileira marcou presença com o já citado Buraquinhos e O Desmonte (Amarildo Felix), Pequena
Ladainha 1 e 2 (Chico Carvalho), Michel III – Uma Farsa à Brasileira
(Fabio Brandi Torres), Pousada Refúgio
(Leonardo Cortez), Homem ao Vento (Marcos Damaceno) e Aproximando-se de A Fera na Selva
(Marina Corazza).
A
maioria dos textos foi criada isoladamente pelo(s) autor(es) (495) ou foram
adaptações assinadas pelo adaptador (18). Houve 33 criações coletivas e 4
processos colaborativos. Em 78 casos a obra contou com coautor.
Em
278 trabalhos o autor exerceu outras funções como ator e/ou diretor.
Foram
321 dramas, 116 comédias, 40 musicais e 73 que se classificam como comédia
dramática, tragicomédia, comédia romântica e outras invencionices como “teatro
coreográfico”, “happening gay”, “humor sombrio”, “transcendental”.
Quanto
ao número de atores houve 103 monólogos, 89 espetáculos com dois atores e 358
com três ou mais atores.
Apenas
73 espetáculos explicitaram a ligação com um grupo/companhia.
A
cena paulistana apresentou em 2018 a média de 46 novos títulos de autores
brasileiros por mês, mas o total em cartaz se manteve constante, assim se pode
concluir que em média 46 títulos deixaram o cartaz a cada mês, o que significa
alta rotatividade e pouco tempo de permanência em cartaz, inibindo a
possibilidade de haver um dos mais eficientes meios de divulgação de um
espetáculo que é o “boca a boca”.
2019
começa com perspectivas tenebrosas para a cultura e para a liberdade de
expressão, mas tenho certeza que o nosso teatro sobreviverá. As estreias de
vários espetáculos já estão sendo anunciadas e pelo menos já estão confirmadas a MITsp e a Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos do CCSP.
Muita
água vai passar debaixo do rio e nós estaremos na plateia de algum templo da
utopia e da esperança aplaudindo o trabalho dos corajosos homens e mulheres que
fazem do teatro sua bandeira de resistência e de luta.
VIVA
O TEATRO!
02/01/2019
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