Antes
de qualquer outra coisa: Ricardo Gelli vale a ida ao Teatro Sérgio Cardoso.
Tenho
reservas ao fato de entender melhor uma peça ou um filme ao ler sua sinopse do
que quando a vejo no palco ou na tela. O fato se torna mais grave quando a
sinopse não tem nada a ver com aquilo a que se assiste.
A
dramaturgia pós-moderna lançou mão de novas formas como a narrativa fragmentada
e a múltipla ação, abrindo mão das unidades aristotélicas, além dos desfechos
em aberto deixando as conclusões para o espectador. Nada contra. E já fomos
testemunhas de obras primas realizadas de acordo com essa tendência, mas a obra
tem de ter certo fio condutor, tênue que seja, para ao final do espetáculo
provocar reflexão, ou simplesmente, divertimento no espectador.
Ao
assistir Rio Grande tentei correr
atrás de um fio condutor ao tentar ligar o homem que veste a calça mais forte
do mundo com aquele que desliga a webcam;
essa e outras tentativas fizeram com que me perdesse no meio do caminho, o que
pode ser uma deficiência puramente pessoal. O que manteve minha atenção foi a interpretação
de Ricardo Gelli, que é digno representante dessa geração de atores talentosos nascidos
em plena ditadura no final da década de 1970 e que hoje, por meio do teatro,
lutam bravamente por um Brasil melhor.
O personagem envolvido com homens para transar
com sua mulher, com um crime e com um delegado passa a hora que dura a ação
dialogando com essas duas figuras invisíveis e com o próprio público,
dirigindo-se ora à direita para um paletó que representa o delegado, ora à
esquerda para a webcam e ora de
frente quando se dirige diretamente para o público. Gelli, propositalmente
envelhecido em cena, muda gestual e tom de voz ao se dirigir aos diferentes
receptores demonstrando todo seu talento e potencial de intérprete.
O
autor Sergio Mello também assina a direção valendo-se de simples, mas muito
criativo cenário (dele e de Gelli) formado por
muito copos que dão especial colorido à cena quando iluminados pelas
luzes criadas por Gelli. Complementam a cena os belos efeitos visuais criados
por André Grynwask e Pri Argoud.
O
inusitado da obra surge desde seu título. Por que Rio Grande?
Rio Grande não é espetáculo fácil, mas
precisa ser visto, no mínimo, para testemunhar uma interpretação, que já pode
se inscrever na lista das melhores do ano.
RIO
GRANDE está em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso até 17/03 com sessões às sextas
e sábados às 19h e aos domingos às 17h.
27/01/2019
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