domingo, 27 de janeiro de 2019

RIO GRANDE



        Antes de qualquer outra coisa: Ricardo Gelli vale a ida ao Teatro Sérgio Cardoso.

        Tenho reservas ao fato de entender melhor uma peça ou um filme ao ler sua sinopse do que quando a vejo no palco ou na tela. O fato se torna mais grave quando a sinopse não tem nada a ver com aquilo a que se assiste.
        A dramaturgia pós-moderna lançou mão de novas formas como a narrativa fragmentada e a múltipla ação, abrindo mão das unidades aristotélicas, além dos desfechos em aberto deixando as conclusões para o espectador. Nada contra. E já fomos testemunhas de obras primas realizadas de acordo com essa tendência, mas a obra tem de ter certo fio condutor, tênue que seja, para ao final do espetáculo provocar reflexão, ou simplesmente, divertimento no espectador.
        Ao assistir Rio Grande tentei correr atrás de um fio condutor ao tentar ligar o homem que veste a calça mais forte do mundo com aquele que desliga a webcam; essa e outras tentativas fizeram com que me perdesse no meio do caminho, o que pode ser uma deficiência puramente pessoal. O que manteve minha atenção foi a interpretação de Ricardo Gelli, que é digno representante dessa geração de atores talentosos nascidos em plena ditadura no final da década de 1970 e que hoje, por meio do teatro, lutam bravamente por um Brasil melhor.
         O personagem envolvido com homens para transar com sua mulher, com um crime e com um delegado passa a hora que dura a ação dialogando com essas duas figuras invisíveis e com o próprio público, dirigindo-se ora à direita para um paletó que representa o delegado, ora à esquerda para a webcam e ora de frente quando se dirige diretamente para o público. Gelli, propositalmente envelhecido em cena, muda gestual e tom de voz ao se dirigir aos diferentes receptores demonstrando todo seu talento e potencial de intérprete.
        O autor Sergio Mello também assina a direção valendo-se de simples, mas muito criativo cenário (dele e de Gelli) formado por  muito copos que dão especial colorido à cena quando iluminados pelas luzes criadas por Gelli. Complementam a cena os belos efeitos visuais criados por André Grynwask e Pri Argoud.
        O inusitado da obra surge desde seu título. Por que Rio Grande?
        Rio Grande não é espetáculo fácil, mas precisa ser visto, no mínimo, para testemunhar uma interpretação, que já pode se inscrever na lista das melhores do ano.

        RIO GRANDE está em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso até 17/03 com sessões às sextas e sábados às 19h e aos domingos às 17h.

        27/01/2019

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