Indo
contra orientações recebidas na academia segundo as quais se devem evitar
verbos como gostar ou adorar em críticas, uma vez que as mesmas devem primar
pela neutralidade, inicio esta matéria para escrever em letras garrafais que
ADORO O GRUPO GALPÃO! Esta paixão vem desde que assisti a Romeu e Julieta que foi o cartão de visitas que o grupo apresentou
a São Paulo. Vejo que isso aconteceu há exatos 26 anos no dia 31 de janeiro de
1993. Desde então acompanho o grupo sem perder nenhum dos seus espetáculos,
incluindo uma gloriosa apresentação do mesmo Romeu e Julieta no Globe
Theatre, o teatro elisabetano reconstruído em Londres no mesmo local onde
Shakespeare se apresentava. Local sagrado tanto para os shakesperianos como
para os amantes de teatro em geral. Com muita garra, o Galpão apresentou-se em
português e fez muito sucesso não só entre os brasileiros presentes, mas entre
a multidão de ingleses que delirou com a ama da fantástica Teuda Bara. Fui uma
orgulhosa testemunha de como a peça foi aclamada pelos ingleses. Ao ver a
bandeira brasileira tremulando no templo de Shakespeare, senti mais uma das
grandes emoções que o teatro já me proporcionou.
A
diversidade de diretores é uma característica do repertório do Galpão. Já
assinaram espetáculos, entre outros, Gabriel Villela (o mais assíduo, com três trabalhos),
Paulo José, Cacá Carvalho, Yara de Novaes e os próprios componentes do grupo.
As duas últimas montagens foram dirigidas pelo carioca sediado em Curitiba,
Marcio Abreu. Enfatizo aqui que aprecio muitíssimo essa trajetória, onde com
toda essa variedade de encenadores a personalidade do Grupo está sempre
presente.
Faço
todo esse preâmbulo para ir contra a maré (a peça está sendo incensada por
todos que têm escrito sobre ela) e dizer que tenho muitas restrições a Outros, apesar de reconhecer a ousadia e
a coragem do grupo de se aventurar em outros terrenos.
Vivemos
tempos difíceis e a arte tem de estar atenta a isso, revelando sua indignação e
revolta sobre o que acontece. Nós, o
espetáculo anterior também dirigido por Marcio Abreu, já buscava novos caminhos
para o grupo e Outros radicaliza na
busca desses caminhos. Isso é extremamente louvável, mas qual a razão para
tanta repetição e cenas tão longas e francamente cansativas? O “Não” e a dança
de Fernanda Vianna são óbvios e intermináveis, assim como, a cena em que
Lydia Del Picchia ensina os passos de dança para o grupo e também a gratuita cena
final de sexo e nudez. É nítida a intenção de mostrar o desencanto com o tempo
presente, mas um corte de 30 minutos não faria mal nenhum a esse objetivo.
De
qualquer maneira é um prazer imenso testemunhar a coesão e a sincronia do
grupo. Duas cenas são ótimas e memoráveis: o canto de Teuda Bara e o monólogo
de Antonio Edson. Os números musicais também são excelentes e é sempre um
prazer ver Simone Ordones tocando o seu trombone. Lastimável a ausência de Inês
Peixoto na sessão que assisti ao espetáculo, pois ela havia sido convocada para
gravação televisiva.
Com
todos esses senões (apenas meu ponto de vista!), Outros é espetáculo obrigatório por sua contundência crítica e por
ser trabalho honesto e corajoso de um dos mais importantes grupos teatrais do
país.
OUTROS
está em cartaz no SESC Bom Retiro às sextas e sábados às 21h e aos domingos às
18h até 03 de março.
31/01/2019
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