Foto de Ale Catan
Tudo
o que o filme tinha de teatral, a peça tem de cinematográfica. Essa parece ter
sido a proposta de Zé Henrique de Paula na concepção deste espetáculo. A peça é
apresentada em palco italiano com uso de projeções e reprodução de cenas em
vídeo. No espaço cênico quase vazio as cadeiras representam papeis muito importantes:
ora são os bonequinhos de estimação da protagonista, ora são os corpos das
personagens e ora são simplesmente cadeiras. Esse cenário de Bruno Anselmo
contribui para o efeito de distanciamento sugerido pelo autor Lars Von Trier (sem
o radicalismo que havia no filme). Os figurinos pesados em cinza e negro de
João Pimenta completam o ambiente exigido pela história.
Foto de Renato Mangolim
Como
uma espécie de Chen Te de A Alma Boa de
Set Suan, a protagonista Grace parece aumentar seu padecimento cada vez que
procura ser melhor e mais solícita com os habitantes da cidade, os quais se
mostram cordiais no início, mas à medida que sentem que ela está em suas mãos
se tornam cruéis e abusivos. Ela só se torna o Chui Ta da peça de Brecht ao
final da peça e o faz de forma radical. A encenação de Zé Henrique de Paula
enfatiza a crueldade e o individualismo da sociedade contemporânea, deixando um
gosto amargo na boca do espectador que se questiona: o que eu faria em tal
situação?
As
personagens principais são Grace, a moça que chega fugitiva em Dogville; Tom, o
jovem que a recepciona e protege e o narrador que faz a ligação das diversas
cenas e apresenta as personagens.
Eric
Lenate tem presença imponente como o narrador e seu tom de voz colabora para a neutralidade
da narrativa. Com uma mudança do lado do casaco, o ator interpreta também o pai de Grace.
O
excelente ator Rodrigo Caetano parece jovem e frágil demais para o papel de Tom
e suas cenas românticas com Grace carecem de calor.
Mel
Lisboa firma-se cada vez mais como uma grande atriz e interpreta Grace de
maneira solene e com certo distanciamento. Sua figura em cena chega a lembrar à
de Nicole Kidman no filme.
É
muito louvável notar nomes famosos como Fabio Assunção, Bianca Byington, Chris
Couto e Selma Egrei encarregando-se de pequenos, mas importantes papéis.
A
trilha de Fernanda Maia dá alguma doçura ao ambiente inóspito de Dogville.
DOGVILLE
está em cartaz no Teatro Porto Seguro às sextas e sábados (21h) e domingos
(19h). Até 31/03.
28/01/2019
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