segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

DOGVILLE


Foto de Ale Catan

        Tudo o que o filme tinha de teatral, a peça tem de cinematográfica. Essa parece ter sido a proposta de Zé Henrique de Paula na concepção deste espetáculo. A peça é apresentada em palco italiano com uso de projeções e reprodução de cenas em vídeo. No espaço cênico quase vazio as cadeiras representam papeis muito importantes: ora são os bonequinhos de estimação da protagonista, ora são os corpos das personagens e ora são simplesmente cadeiras. Esse cenário de Bruno Anselmo contribui para o efeito de distanciamento sugerido pelo autor Lars Von Trier (sem o radicalismo que havia no filme). Os figurinos pesados em cinza e negro de João Pimenta completam o ambiente exigido pela história.

Foto de Renato Mangolim

        Como uma espécie de Chen Te de A Alma Boa de Set Suan, a protagonista Grace parece aumentar seu padecimento cada vez que procura ser melhor e mais solícita com os habitantes da cidade, os quais se mostram cordiais no início, mas à medida que sentem que ela está em suas mãos se tornam cruéis e abusivos. Ela só se torna o Chui Ta da peça de Brecht ao final da peça e o faz de forma radical. A encenação de Zé Henrique de Paula enfatiza a crueldade e o individualismo da sociedade contemporânea, deixando um gosto amargo na boca do espectador que se questiona: o que eu faria em tal situação?
        As personagens principais são Grace, a moça que chega fugitiva em Dogville; Tom, o jovem que a recepciona e protege e o narrador que faz a ligação das diversas cenas e apresenta as personagens.
        Eric Lenate tem presença imponente como o narrador e seu tom de voz colabora para a neutralidade da narrativa. Com uma mudança do lado do casaco, o ator interpreta também o pai de Grace.
        O excelente ator Rodrigo Caetano parece jovem e frágil demais para o papel de Tom e suas cenas românticas com Grace carecem de calor.
        Mel Lisboa firma-se cada vez mais como uma grande atriz e interpreta Grace de maneira solene e com certo distanciamento. Sua figura em cena chega a lembrar à de Nicole Kidman no filme.
        É muito louvável notar nomes famosos como Fabio Assunção, Bianca Byington, Chris Couto e Selma Egrei encarregando-se de pequenos, mas importantes papéis.
        A trilha de Fernanda Maia dá alguma doçura ao ambiente inóspito de Dogville.

        DOGVILLE está em cartaz no Teatro Porto Seguro às sextas e sábados (21h) e domingos (19h). Até 31/03.

        28/01/2019
       


Nenhum comentário:

Postar um comentário