Não
são só as mercadorias que têm prazo de validade. Os animais, entre eles nós os
humanos, também temos um tempo para ser saudável, desenvolver e depois começar
a decair até expirar. Hoje já podemos trocar órgãos vencidos por meio de
transplantes. No futuro a Family Made
Factory (só podia ter nome em inglês) irá nos oferecer novas formas de
vida. De vida? Sem querer ser spoiler
(outro nome em inglês!), é mais ou menos disso que trata a peça de Kiko Rieser
em cartaz na cidade. Um avô com prazo de validade prestes a vencer, seu filho e
sua neta são as personagens da peça, além da atendente da Family Made.
Rieser
se muniu de ótima equipe técnica para produzir sua peça: a competência e a criatividade
de Marisa Bentivegna estão presentes no cenário repleto de gavetas de onde
podem sair desde os pesos para musculação da neta até os relatórios da Factory; Gregory Slivar é responsável
pela trilha sonora que comenta a ação e embala as entre cenas; Aline Santini se
encarrega dos belos efeitos luminosos e os sóbrios figurinos são de Kleber
Montanheiro que dá um tom de futurismo apenas nas roupas da atendente.
E
para completar, o elenco! João Bourbonnais dá vida ao avô que começa a
demonstrar “vencimento” com seus lapsos de memória; Louise Helène inicia como
uma menina frívola preocupada com seu físico e tem seu bom momento dramático ao
final da peça; Eduardo Semerjan empresta vigor à revolta do pai que resiste a
trocar seu velho pai por algo muito parecido com ele e, finalmente, Luciana
Ramanzini como a burocrática atendente da Factory
é responsável pelos momentos mais engraçados da peça (na verdade, a burocracia
do seu atendimento tende para o trágico, mas acaba-se rindo da kafkiana
situação).
A
meu modo de ver, dez minutos a menos não fariam mal à encenação. A cena onde o
pai comenta com a filha sobre a escolha daquele apartamento pela falecida
esposa criada pelo dramaturgo para mostrar a reumanização dele é muito longa e
perde-se em detalhes que não acrescentam nada à trama. Outra cena longa é
aquela final onde a atendente repete à neta o que poderia ser feito com seu pai
(é o mesmo discurso que ela fez em cena anterior para o pai em relação ao avô).
A
peça tem excelente final aberto onde o público deve concluir qual será a
decisão da jovem.
Kiko
Rieser é artista preocupado com o seu tempo e com os rumos que a humanidade vem
tomando e sua peça é compatível com seu pensamento.
A
VIDA ÚTIL DE TODAS AS COISAS está em cartaz na Oficina Cultural Oswald de
Andrade às quintas e sextas às 20h e aos sábados às 18h até 15/06. Entrada
franca.
29/05/2019
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