Raças,
gêneros e os tipos físicos mais variados compõem o elenco da peça Brian ou Brenda e essa diversidade não
foi uma escolha ao acaso dos diretores Yara de Novaes e Carlos Gradim, uma vez
que ela atesta a proposta da encenação.
Ao
que consta no programa o autor Franz Kepler fez uma grande pesquisa em torno do caso da
família Reimer ocorrido na década de 1960 no Canadá, onde um dos gêmeos
nascidos saudavelmente teve o pênis destruído numa cirurgia de circuncisão. Por
sugestão médica a família concordou que o menino sofresse cirurgia para mudança
de sexo “transformando-se” de Brian em Brenda. Um corpo de Brenda com espírito
de Brian foi o tormento desse ser durante toda sua vida terminada tragicamente
em 2004. Baseado nesses fatos reais Kepler escreveu texto dramaturgicamente
ágil com elementos da trama que vão se esclarecendo aos poucos e que não devem
ser comentados sob pena de tirar a surpresa do espectador.
Com
esse texto em mãos e o elenco citado acima os encenadores criaram espetáculo
extremamente ágil e criativo onde todo elenco interpreta todas as personagens
da história no melhor estilo coringa. Para facilitar o entendimento do
espectador e também para criar clima propício para o desenvolvimento das
personagens, os atores usam etiquetas com o nome das pessoas que estão vivendo
naquele momento. Uma simples arquibancada com espaço frontal foi o cenário
idealizado por André Cortez para o desenvolvimento da peça; para tanto contou
também com a sempre criativa luz desenhada por Aline Santini que em certos
momentos “encara” o espectador, colocando-o na berlinda. A
trilha sonora de Dr Morris completa o clima exigido pela encenação, assim como os criativos figurinos de Cassio Brasil que ressaltam a importância da identidade de gênero.
Lavínia
Pannunzio, Augusto Madeira e Daniel Tavares, donos de raro domínio de palco,
têm intervenções excelentes quaisquer que sejam as personagens que estejam
fazendo e são muito bem acompanhados por todo o resto do elenco formado pelos
surpreendentes Giovanni Venturini, Jimmy Wong, Kay Sara, Marcella Maia e Paulo
Campos.
A intervenção da atriz Marcella Maia ao final do espetáculo coroa de forma
exemplar tudo o que foi mostrado até então e é com o coração apertado de emoção
e de indignação que o público deixa a sala de espetáculos.
BRIAN
OU BRENDA está em cartaz no Centro Cultural São Paulo às sextas e sábados às
21h e domingos às 20h até 20/10. NÃO DEIXE DE VER... Principalmente se tiver
filhos pequenos!!
28/09/2019