O título deste
“experimento cênico audiovisual” do grupo Os Fofos Encenam, que em boa
hora retorna à cena paulistana, me remeteu a um espetáculo de 1977 do grupo
português A Barraca dirigido por Augusto Boal que se intitulava Ao
Qu’isto Chegou!. Este também poderia ser um bom nome para esse conjunto de
performances dos componentes do grupo, costuradas com mão de mestre por Marcio
Abreu que assina a direção do trabalho.
O espetáculo não
mostra o “aquilo”, mas deixa claro ao “nisso” que se chegou: uma realidade
urbana com muitos moradores de rua, muita pobreza, muitos prédios históricos
abandonados e muita sujeira onde fica clara a indignação do grupo e do diretor
que parecem exclamar: “ao qu’isto chegou!”.
São cerca de doze
performances realizadas pelos componentes do grupo, entremeadas por declarações
de cada um deles. As performances são realizadas nas ruas de São Paulo, em
geral com as/os artistas vestidos com figurinos criados por Carol Badra e visagismo
propositalmente extravagante. Como toda cena realizada na rua há curiosas
intervenções dos transeuntes.
Todas performances são
ótimas, mas não há como não destacar três: Kátia Daher reconstrói com pequenas
maquetes os prédios do Teatro Oficina,
do Teatro Brasileiro de Comédia e da antiga sede do grupo na Rua
Adoniran Barbosa defendendo a ideia do parque idealizado por Zé Celso; quase
como uma continuação da cena de Kátia, Paulo de Pontes faz sua performance na
Rua Major Diogo defronte ao abandonado edifício do Teatro Brasileiro de
Comédia; com um vestido vermelho longo Erica Montanheiro caminha à noite
pelo Minhocão enviando mensagens aos mortos por meio de balões vermelhos soltos
no ar.
O enxuto espetáculo
dura apenas 40 minutos e tem gosto de “quero mais”.
Pode ser assistido gratuitamente no Canal Youtube da Corpo Rastreado até 16/10 às 20h, com exibições extras nos dias 15 e 16 às 17h.
12/10/2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário