quarta-feira, 12 de outubro de 2022

AQUILO DEU NISSO

O título deste “experimento cênico audiovisual” do grupo Os Fofos Encenam, que em boa hora retorna à cena paulistana, me remeteu a um espetáculo de 1977 do grupo português A Barraca dirigido por Augusto Boal que se intitulava Ao Qu’isto Chegou!. Este também poderia ser um bom nome para esse conjunto de performances dos componentes do grupo, costuradas com mão de mestre por Marcio Abreu que assina a direção do trabalho.

O espetáculo não mostra o “aquilo”, mas deixa claro ao “nisso” que se chegou: uma realidade urbana com muitos moradores de rua, muita pobreza, muitos prédios históricos abandonados e muita sujeira onde fica clara a indignação do grupo e do diretor que parecem exclamar: “ao qu’isto chegou!”.

São cerca de doze performances realizadas pelos componentes do grupo, entremeadas por declarações de cada um deles. As performances são realizadas nas ruas de São Paulo, em geral com as/os artistas vestidos com figurinos criados por Carol Badra e visagismo propositalmente extravagante. Como toda cena realizada na rua há curiosas intervenções dos transeuntes.

Todas performances são ótimas, mas não há como não destacar três: Kátia Daher reconstrói com pequenas maquetes  os prédios do Teatro Oficina, do Teatro Brasileiro de Comédia e da antiga sede do grupo na Rua Adoniran Barbosa defendendo a ideia do parque idealizado por Zé Celso; quase como uma continuação da cena de Kátia, Paulo de Pontes faz sua performance na Rua Major Diogo defronte ao abandonado edifício do Teatro Brasileiro de Comédia; com um vestido vermelho longo Erica Montanheiro caminha à noite pelo Minhocão enviando mensagens aos mortos por meio de balões vermelhos soltos no ar.

O enxuto espetáculo dura apenas 40 minutos e tem gosto de “quero mais”.

Pode ser assistido gratuitamente no Canal Youtube da Corpo Rastreado até 16/10 às 20h, com exibições extras nos dias 15 e 16 às 17h. 

12/10/2022

 

 

 

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