Nossa cultura e nossa
história serem consumidas pelo fogo ao final do governo Temer e com a
perspectiva de o povo eleger o ser mais ímpio que estas terras já conheceram
seria uma poderosa metáfora caso não fosse uma triste realidade o incêndio que
tomou conta do Museu Nacional no Rio de Janeiro em setembro de 2018.
A (tentativa da)
destruição da nossa cultura usando como exemplo o incêndio ocorrido no Museu
Nacional foi o tema escolhido por Vinicius Calderoni e o grupo Barca dos
Corações Partidos para o espetáculo ora em cartaz no Teatro Antunes
Filho do SESC Vila Mariana. Digo tentativa porque o fogo
criado por “eles” jamais destruirá nossa luta em defesa da cultura e de um
Brasil melhor.
Mesmo com essa
premissa este desavisado espectador se dirigiu ao teatro com a expectativa de
assistir a mais um trabalho solar da Barca, no esquema de Gonzagão,
Auê, Suassuna e Jacksons do Pandeiro e, a princípio, se
decepcionou, ao se deparar com um espetáculo que é muito mais Calderoni do que
a Barca e que se aproxima mais do clima de Macunaíma (outro
espetáculo da Barca) do que dos acima citados.
Mas os tempos não
andam solares, pelo contrário, estão bastante sombrios e ao repensar o
espetáculo com a corajosa escrita de Calderoni colocando a mão na ferida e pondo
os pingos nos is só posso concordar com a opção de colocar o texto na frente da
parte musical, mesmo que as letras das canções tenham tudo a ver com a
narrativa proposta.
Problemas técnicos -
facilmente solucionáveis durante a curta temporada - com a luz e o som
prejudicaram a fluência do espetáculo na noite da estreia.
Acostumado com as
fantásticas coreografias criadas por Duda Maia para a Barca, achei
aquelas criadas por Fabrício Licursi para este trabalho muito esquemáticas e
previsíveis. Também fugiu de minha compreensão o conceito por detrás dos
figurinos assinados por Kika Lopes e Rocio Moure.
As presenças indígena
e negra no elenco são extremamente bem-vindas e têm tudo a ver com a proposta
do espetáculo.
Com a parte musical
relativamente ofuscada os cinco componentes da Barca (Adrén Alves,
Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios e Ricca Barros) brilham cada vez
mais como atores. Senti a falta de Fabio Enriquez (que já não participou do Jacksons
presencial) e de Renato Luciano (presente na plateia, mas não no palco).
Cabe destacar a
presença de excelentes artistas convidados como a indígena Rosa Peixoto, a
poderosa Ana Carbatti dando vida à nossa ancestral Luzia, Adassa Martins, Aline
Gonçalves (que além de atriz é exímia flautista), Felipe Frazão (responsável
por excelentes momentos solos do espetáculo) e de Lucas dos Prazeres e Luiza
Loroza que já admirávamos desde Jacksons do Pandeiro.
A temporada do
espetáculo com certeza vai equilibrar o teatro de Vinicius Calderoni com aquele
da Barca dos Corações Partidos e este espectador, admirador tanto de um
como do outro, gostaria de revê-lo também com a expectativa equilibrada.
Museu Nacional fica em cartaz no
SESC Vila Mariana com sessões de quinta a sábado às 21h e aos domingos às 18h
até 29 de outubro, véspera do dia que eu espero que seja aquele em que o povo
brasileiro (ou parte dele) comece a devolver os ratos para o esgoto.
VIVA VINICIUS
CALDERONI!
VIVA A BARCA DOS
CORAÇÕES PARTIDOS!
VIVA A PRESERVAÇÂO DA
NOSSA MEMÓRIA E DA NOSSA CULTURA!
VIVA O NOSSO TEATRO!!
15/10/2022
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