Montgomery Clift
(1920-1966) antecedeu James Dean (1931-1955) e Marlon Brando (1924-2004) na
forma de atuar que revolucionou o cinema norte americano na década de 1950.
Quatro vezes indicado ao Oscar, não levou o prêmio nenhuma vez, fato que
contribuiu para seu estado depressivo, muito acentuado após o acidente com o
carro em 1956 que o desfigurou e o levou ao álcool e às drogas.
A peça do dramaturgo
espanhol Alberto Conejero López faz, no seu título original, um jogo
interessante do sobrenome do ator (Clift) com a palavra em inglês “cliff”
que significa penhasco, precipício. Isso fica claro quando ele situa a ação da
peça no período compreendido entre 1956 (ano do acidente), passando por 1962
(ano em que ele não ganhou o Oscar após a quarta indicação) e 1966 ou
seja, período em que ele estava à beira de um precipício e onde realmente caiu em
23 de julho de 1966, dia de sua morte. Esse período de auto destruição é
considerado como “o suicídio mais longo vivido em Hollywood”. Com tudo
isso pode-se deduzir que não se trata de um espetáculo alto astral, mas sombrio
e triste.
Gustavo Gasparani
vive intensamente essa figura triste, revoltada e melancólica em um monólogo
que se utiliza de recurso comum nesse tipo de texto onde o personagem dialoga
ou ao telefone (no caso com sua grande amiga Elisabeth Taylor) ou com pessoas
invisíveis (a mãe, o acompanhante Lorenzo e Marlon Brando).
Em cenário de Natalia
Lama cujo elemento principal é uma banheira o ator se desloca ora se olhando no
espelho, ora se dirigindo diretamente ao público ou falando com seus fantasmas,
sempre vestido com os discretos figurinos de Marieta Spada.
A trilha sonora
selecionada por Marcelo Alonso Neves inclui belas composições do cancioneiro
norte-americano, trechos de diálogos de filmes de Montgomery Clift e até uma
canção de West Side Story, na cena em que Clift lamenta-se de ter
perdido o Oscar de ator coadjuvante em O Julgamento de
Nuremberg para George Chakiris que atua no musical de Robert Wise.
Um grande achado do
texto é explorar a vontade de Clift de montar A Gaivota de Tchekhov com
ele no papel de Treplev e sua amiga Elisabeth Taylor como Nina.
Fernando Philbert realiza uma digna tradução cênica do texto focando toda a atenção na interpretação intensa de Gasparani que já brilhou nesse mesmo espaço há alguns anos com o memorável Ricardo III de Shakespeare, também em forma de monólogo. É um ator representando outro ator e a peça não poderia terminar de forma mais significativa do que com a frase de Clift dita com muita emoção por Gustavo Gasparani: “Quando a luz se apagou, nunca mais houve outra felicidade senão aquela, a estúpida felicidade de ser outro”.
COMO NÃO POSSO SER
MONTGOMERY CLIFT? Está em cartaz no auditório do SESC Pinheiros de quinta a
sábado às 20h até 12 de novembro.
IMPERDÍVEL para quem ama o cinema e o teatro!
24/10/2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário