Haverá algum lugar no mundo onde possamos colocar nossa esperança?
1. Um pouco de história.
Foi em 1972 que Mauro
Rasi, então com 23 anos, estreou sua primeira peça A Massagem em São
Paulo, vinda na onda de peças com dois atores iniciada em 1969 com Antônio
Bivar, Zé Vicente, Leilah Assumpção, Consuelo de Castro e Isabel Câmara.
Em 1974 foi a vez de Ladies
na Madrugada, estreia tumultuada e desastrosa do autor na direção que, retirada
de cartaz, teve de ser redirigida por Amir Haddad; a produção era de Ney
Matogrosso e o espetáculo revelava o talento do saudoso Patrício Bisso, recém
vindo de Buenos Aires, com apenas 17 anos.
Em seguida veio a
onda besteirol, onde a maioria de suas peças estreou no Rio de Janeiro.
Finalmente em 1987,
Rasi estreia uma de suas obras primas no Rio de Janeiro: A Cerimônia do
Adeus; no ano seguinte a peça estreia em São Paulo no Teatro Anchieta
com direção de Ulysses Cruz. A peça é a segunda de uma trilogia (mas a primeira
a ser escrita e estreada) formada por A Estrela do Lar e Viagem a
Forli (a última). De alguma maneira a peça Pérola escrita anos depois
também faz parte do universo da trilogia.
Rasi continuou escrevendo até sua morte prematura aos 54 anos em 2003.
2. Abril de 2023
Eis que 35 anos
depois, Juliano, Aspázia, Brunilde, Francisco, Lourenço, Simone e Sartre, as
personagens de A Cerimônia do Adeus, voltam ao mesmo palco, mais uma vez
pelas mãos de Ulysses Cruz e a peça conserva todo o frescor da época em que
surgiu, sem necessidade de atualizações gratuitas. Isso é que torna um texto um
clássico, não é? As inquietações do jovem Juliano e as intervenções
político-filosóficas do casal francês estão todas lá, da maneira que Rasi as
concebeu.
Novos cenários e
figurinos (ambos de Ulysses Cruz), trilha sonora (de André Abujamra),
iluminação (Nicolas Caratori) e, obviamente, novo elenco.
Ulysses Cruz remodelou
a postura gestual e interpretativa dos personagens de Simone de Beauvoir e de
Jean-Paul Sartre e o que minha memória traz depois de 35 anos é que os outros
personagens mantém as mesmas características da montagem anterior.
Se o elenco de 1985
era excelente, este não fica atrás. A importante figura da mãe Aspázia é
interpretada com muita intensidade por Malu Galli; Olívia Araújo tem bonita
participação como a simpática tia Brunilde, sendo responsável por bons diálogos
engraçados com Aspázia; Rafael de Bona é o primo revoltado e obcecado pelo
protagonista Juliano e Fernando Moscardi mostra a vivacidade juvenil do amigo
Francisco.
Eucir de Souza
representa um Sartre já avançado na idade e Beth Goulart empresta seu enorme
talento para uma solene e irônica Simone de Beauvoir, sem deixar de dar um toque de humor em suas intervenções.
No centro da roda está
o Juliano de Lucas Lentini. Em 2015 ao assistir a Sobre Cartas & Desejos
Infinitos eu já pontuava: “a peça revela o talento de Lucas Lentini,
intenso nas emoções da personagem Rafa” e Lentini não deixou de mostrar o
seu talento em toda a sua trajetória até aqui, coroando-a com esta formidável
interpretação do jovem Juliano.
A Cerimônia do Adeus é um dos grandes
momentos desta temporada teatral que não para de nos surpreender.
Sempre reforço que o teatro é o templo da esperança e da utopia e talvez isso responda em parte à questão que Simone levanta na frase que serve de epígrafe para esta matéria.
Cabe destacar o belo programa da peça com belíssimas fotos em preto e branco creditadas a Lenise Pinheiro.
A CERIMÔNIA DO ADEUS está em cartaz no Teatro Anchieta até 21/05/2023 às sextas e aos sábados às 20h e aos domingos às 18h.
10/04/2023
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