sábado, 8 de abril de 2023

JUDY – O ARCO-ÍRIS É AQUI

 

Em apenas uma semana assisti a dois bons espetáculos muito parecidos na forma: Dolores com Rosana Maris e Judy com Luciana Braga.

Parece ser a hora e a vez dos musicais biográficos minimalistas: uma atriz mescla a vida e a obra de uma cantora com sua própria trajetória interpretando canções da biografada com acompanhamento de um pequeno grupo de músicos.

Nada de cenários espetaculosos que sobem e descem nem sempre dizendo porquê, nem coreografias mirabolantes tentando chegar perto daquelas de Bob Fosse e muito menos elenco grandioso com a mocinha com voz sopraninho lembrando aquela da noviça rebelde da Julie Andrews; aqui tudo se resume a uma excelente atriz que se aventura a cantar, muito bem por sinal.

Judy Garland (1922-1969) não teve vida fácil. Baixinha (1m51) e meio rechonchuda, foi levada aos medicamentos, diga-se drogas, ainda na adolescência pela sua opressora mãe e pelos executivos da Metro-Goldwin-Mayer com o objetivo de emagrecer e manter o intenso ritmo de trabalho a que era submetida. Tal fato a marcou para sempre, viciando-a e levando-a à morte precocemente aos 47 anos de vida.

O texto e o espetáculo de Flávio Marinho não deixam de citar esses tristes fatos, mas mantém um clima de arco-íris depois da tempestade enfatizado brilhantemente por uma solar Luciana Braga que encanta o público desde a entrada deste na sala de espetáculos, recebendo-o com contagiante e espontânea simpatia.

A primeira vez que assisti a um trabalho de Luciana Braga foi em 1986 quando ela se apresentou com o Grupo Tapa em São Paulo em O Tempo e os Conways. Era uma jovem de 24 anos em um elenco numeroso, mas que já se fazia notar. Voltei a vê-la, mais madura, contracenando com Carla Camuratti em Cartas Portuguesas (1992) e depois em duas peças com seu autor/diretor atual Flávio Marinho: Coração Brasileiro (2000) e Um Caminho Para Dois (2005).

Dezoito anos depois Luciana volta aos palcos paulistanos para brilhar de forma muito intensa dando vida à não menos brilhante Judy Garland. Luciana se parece com Judy e os figurinos (perfeitos) e o penteado reforçam essa semelhança. A atriz não procura imitar a biografada nem no gestual nem na interpretação das canções, mas Judy insiste em se fazer presente aqui e ali durante os deliciosos 90 minutos que dura o espetáculo.

Luciana Braga é acompanhada pelos músicos Liliane Secco e André Amaral e os arranjos e a direção musical são de Liliane Secco. A fundamental preparação vocal é assinada por Felipe Abreu. Cenário e figurinos (já elogiados acima) de Ronald Teixeira. A competência habitual de Paulo César Medeiros comparece na iluminação.

Por seu extremo bom gosto, pela riqueza da obra de Judy Garland e pela excelente interpretação de Luciana Braga, Judy – O Arco-Íris É Aqui é espetáculo imperdível que deve levar multidões ao Teatro FAAP até o final da temporada em 28 de maio. Sessões às sextas e aos sábados às 20h e aos domingos às 18h.

Não deixe pra depois...

08/04/2023

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