Em apenas uma semana
assisti a dois bons espetáculos muito parecidos na forma: Dolores com Rosana
Maris e Judy com Luciana Braga.
Parece ser a hora e a
vez dos musicais biográficos minimalistas: uma atriz mescla a vida e a obra de
uma cantora com sua própria trajetória interpretando canções da biografada com
acompanhamento de um pequeno grupo de músicos.
Nada de cenários
espetaculosos que sobem e descem nem sempre dizendo porquê, nem coreografias
mirabolantes tentando chegar perto daquelas de Bob Fosse e muito menos elenco
grandioso com a mocinha com voz sopraninho lembrando aquela da noviça rebelde
da Julie Andrews; aqui tudo se resume a uma excelente atriz que se aventura a cantar, muito bem por sinal.
Judy Garland (1922-1969)
não teve vida fácil. Baixinha (1m51) e meio rechonchuda, foi levada aos
medicamentos, diga-se drogas, ainda na adolescência pela sua opressora mãe e
pelos executivos da Metro-Goldwin-Mayer com o objetivo de emagrecer e manter o
intenso ritmo de trabalho a que era submetida. Tal fato a marcou para sempre,
viciando-a e levando-a à morte precocemente aos 47 anos de vida.
O texto e o
espetáculo de Flávio Marinho não deixam de citar esses tristes fatos, mas
mantém um clima de arco-íris depois da tempestade enfatizado brilhantemente por
uma solar Luciana Braga que encanta o público desde a entrada deste na sala de
espetáculos, recebendo-o com contagiante e espontânea simpatia.
A primeira vez que
assisti a um trabalho de Luciana Braga foi em 1986 quando ela se apresentou com
o Grupo Tapa em São Paulo em O Tempo e os Conways. Era uma jovem
de 24 anos em um elenco numeroso, mas que já se fazia notar. Voltei a vê-la,
mais madura, contracenando com Carla Camuratti em Cartas Portuguesas
(1992) e depois em duas peças com seu autor/diretor atual Flávio Marinho: Coração
Brasileiro (2000) e Um Caminho Para Dois (2005).
Dezoito anos depois
Luciana volta aos palcos paulistanos para brilhar de forma muito intensa dando
vida à não menos brilhante Judy Garland. Luciana se parece com Judy e os
figurinos (perfeitos) e o penteado reforçam essa semelhança. A atriz não
procura imitar a biografada nem no gestual nem na interpretação das canções,
mas Judy insiste em se fazer presente aqui e ali durante os deliciosos 90
minutos que dura o espetáculo.
Luciana Braga é
acompanhada pelos músicos Liliane Secco e André Amaral e os arranjos e a
direção musical são de Liliane Secco. A fundamental preparação vocal é assinada
por Felipe Abreu. Cenário e figurinos (já elogiados acima) de Ronald Teixeira. A
competência habitual de Paulo César Medeiros comparece na iluminação.
Por seu extremo bom
gosto, pela riqueza da obra de Judy Garland e pela excelente interpretação de
Luciana Braga, Judy – O Arco-Íris É Aqui é espetáculo imperdível que
deve levar multidões ao Teatro FAAP até o final da temporada em 28 de maio.
Sessões às sextas e aos sábados às 20h e aos domingos às 18h.
Não deixe pra
depois...
08/04/2023
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