sábado, 1 de abril de 2023

O AVESSO DA PELE

 

Vitor Britto/Marcos Oli/Bruno Rocha/Alexandre Ammano

É muito gratificante para este velho espectador assistir a um espetáculo que atinge surpreendente resultado tanto na forma como no conteúdo, realizado por jovens que ainda não chegaram aos 30 anos. É nessa geração que está o futuro do nosso teatro!

Eu não li o romance de Jeferson Tenório, mas não deixarei de fazê-lo, após assistir à excelente adaptação teatral feita por Beatriz Barros e Vitor Britto e que resultou no não menos excelente espetáculo teatral dirigido por Beatriz ora em suas últimas apresentações no SESC Avenida Paulista.

Sinopse constante do programa da peça: “A história é narrada por Pedro. O seu pai, Henrique, é um professor de literatura da rede pública de ensino que sofre uma desastrosa abordagem policial, sendo assassinado voltando para casa depois de uma das melhores aulas de sua vida. A partir dessa morte, Pedro, então decide resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos”

A partir desse material a encenadora realizou espetáculo belo e complexo, repleto de surpresas que mantém o espectador tenso e desperto durante o pouco mais de uma hora de sua duração. Para tanto Beatriz contou com elenco de quatro jovens atores absolutamente integrados entre si e na trama. Eles se revezam na interpretação do narrador Pedro, do pai, da mãe, dos alunos do pai e até de um hilário par de terapeutas.

A criatividade da encenação já é sentida nos primeiros momentos da mesma quando o quarteto literalmente emerge de uma montanha de livros e continua com as notáveis cenas coreografadas (excelente direção de movimento e preparação corporal de Castilho) ao som pulsante do funk e da direção musical de Felipe Oládélè.

Colaboram para o excelente resultado a cenografia de Wanderlei Wagner, o desenho de luz de Gabriele Souza e o figurino de Naya Violeta.

Mas tal resultado seria impossível sem o elenco formado por quatro atores em momento inegavelmente iluminado. Não há como destacar este ou outro nome, mas vale lembrar de momentos marcantes como Vitor Britto e Marcos Oli representando Henrique em sala de aula buscando a atenção dos alunos para a saga de Raskólnikov, personagem de Crime e Castigo de Dostoiveski ou aquele com Bruno Rocha em excelente exercício corporal ilustrando a narração que o professor faz do romance russo e ainda o início da peça com um pungente relato feito por Alexandre Ammano. Mas esses são apenas alguns momentos que me vêm à memória  porque os quatro nos tocam e emocionam durante  todo o espetáculo.

Espetáculo de denúncia contra o racismo, sem ser panfletário ou agressivo, O Avesso da Pele se inscreve entre os melhores trabalhos apresentados neste primeiro trimestre nessa temporada teatral paulistana bastante rica e diversificada.

A peça sai de cartaz no próximo domingo, 02/04 e está com ingressos esgotados (não é impossível conseguir um lugarzinho na fila da esperança que se forma algumas horas antes do início, mas...). A boa notícia é que a peça possivelmente cumprirá nova temporada no Centro Cultural São Paulo. 

Em tempo: na Folha de Paulo desta sexta feira (31/03) há uma extensa reportagem sobre abordagem policial racista. 

01/04/2023

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