É muito gratificante
para este velho espectador assistir a um espetáculo que atinge surpreendente
resultado tanto na forma como no conteúdo, realizado por jovens que ainda não
chegaram aos 30 anos. É nessa geração que está o futuro do nosso teatro!
Eu não li o romance
de Jeferson Tenório, mas não deixarei de fazê-lo, após assistir à excelente
adaptação teatral feita por Beatriz Barros e Vitor Britto e que resultou no não
menos excelente espetáculo teatral dirigido por Beatriz ora em suas últimas apresentações
no SESC Avenida Paulista.
Sinopse constante do
programa da peça: “A história é narrada por Pedro. O seu pai, Henrique, é um
professor de literatura da rede pública de ensino que sofre uma desastrosa
abordagem policial, sendo assassinado voltando para casa depois de uma das
melhores aulas de sua vida. A partir dessa morte, Pedro, então decide resgatar
o passado da família e refazer os caminhos paternos”
A partir desse
material a encenadora realizou espetáculo belo e complexo, repleto de surpresas
que mantém o espectador tenso e desperto durante o pouco mais de uma hora de
sua duração. Para tanto Beatriz contou com elenco de quatro jovens atores
absolutamente integrados entre si e na trama. Eles se revezam na interpretação
do narrador Pedro, do pai, da mãe, dos alunos do pai e até de um hilário par de
terapeutas.
A criatividade da
encenação já é sentida nos primeiros momentos da mesma quando o quarteto
literalmente emerge de uma montanha de livros e continua com as notáveis cenas
coreografadas (excelente direção de movimento e preparação corporal de
Castilho) ao som pulsante do funk e da direção musical de Felipe Oládélè.
Colaboram para o
excelente resultado a cenografia de Wanderlei Wagner, o desenho de luz de
Gabriele Souza e o figurino de Naya Violeta.
Mas tal resultado
seria impossível sem o elenco formado por quatro atores em momento
inegavelmente iluminado. Não há como destacar este ou outro nome, mas vale
lembrar de momentos marcantes como Vitor Britto e Marcos Oli representando Henrique
em sala de aula buscando a atenção dos alunos para a saga de Raskólnikov,
personagem de Crime e Castigo de Dostoiveski ou aquele com Bruno Rocha
em excelente exercício corporal ilustrando a narração que o professor faz do
romance russo e ainda o início da peça com um pungente relato feito por
Alexandre Ammano. Mas esses são apenas alguns momentos que me vêm à memória porque os quatro nos tocam e emocionam durante
todo o espetáculo.
Espetáculo de
denúncia contra o racismo, sem ser panfletário ou agressivo, O Avesso da
Pele se inscreve entre os melhores trabalhos apresentados neste primeiro
trimestre nessa temporada teatral paulistana bastante rica e diversificada.
A peça sai de cartaz no próximo domingo, 02/04 e está com ingressos esgotados (não é impossível conseguir um lugarzinho na fila da esperança que se forma algumas horas antes do início, mas...). A boa notícia é que a peça possivelmente cumprirá nova temporada no Centro Cultural São Paulo.
Em tempo: na Folha de Paulo desta sexta feira (31/03) há uma extensa reportagem sobre abordagem policial racista.
01/04/2023
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